terça-feira, 6 de maio de 2008

A bússola do cristão diante da política

por Giorgio Vittadini, presidente da Fundação para a Subsidiariedade

Não será supérfluo recordar, neste início de campanha eleitoral*, alguns critérios úteis (a um cristão e não só) para se mover diante da política. Um velho ditado católico afirma que a política, não só não pode nem deve pretender dar a felicidade, como nem sequer pode pretender construir o bem comum sozinha. Como disse Bento XVI, «as melhores estruturas só funcionam se numa comunidade subsistem convicções que sejam capazes de motivar os seres humanos para uma livre adesão ao ordenamento comunitário» (Spe Salvi, 24a).

De facto, como referiu D. Giussani em 1987 num congresso da Democracia Cristã da Lombardia, que ocorreu em Assago, nestas comunidades – realidades sociais, movimentos, mundo associativo – verifica-se mais facilmente aquela educação para a «relação com o infinito que torna a pessoa sujeito activo e verdadeiro da história», capaz de gerar obras e agregações que exprimam a sua liberdade e criatividade.

Então, neste contexto, qual é o papel da política? Como disse ainda don Giussani em Assago: «Política verdadeira é a que defende uma novidade de vida no presente, capaz de modificar até a ordem do poder», de modo a «favorecer um Estado que seja verdadeiramente laico, ou seja, ao serviço da vida social, segundo o conceito tomístico de bem comum, retomado vigorosamente pelo grande e esquecido magistério de Leão XIII».

Por isso é necessário evitar na política qualquer atitude utópica que não tem em consideração as condições reais nas quais a política se exprime, querendo afirmar princípio morais e ideais. Assim, acaba por permitir o advento de sistemas de poder incapazes de facilitar uma convivência livre e pacífica. Hoje, por exemplo, este tiro no pé pode acontecer ao se defenderem iniciativas ético-políticas sacrosantas quanto ao conteúdo mas que, nos factos, apenas provocam um radicalizar-se dialéctico do debate e logo uma menor probabilidade de poder intervir de modo ponderado e aprofundado, hoje ou no futuro, sobre os temas inegociáveis, porquanto respeitam à própria concepção da pessoa. O erro pode exprimir-se ainda na dispersão dos votos e favorecendo assim, de modo involuntário, o advento do poder dos partidos mais afastados da própria concepção ideal.

Pelo contrário, considerando a política não como instrumento da salvação do homem, mas como arte do compromisso virtuoso para o bem comum, e levando em consideração com realismo as formas eleitorais e as ordens institucionais, é preferível privilegiar as escolhas de poder que se dirigem ao favorecimento de ordens de poder com mais probabilidade de deixar espaço ao livre operar das famílias, movimentos, associações, iniciativas económicas e sociais que animam a sociedade, na óptica da subsidiariedade. Ainda hoje em dia o princípio da libertas ecclesiae et societatis é verdadeira bússola para o cristão diante da política.


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* referência às últimas eleições na Itália