por Luís Botelho
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Nem académicos, nem especialistas
internacionais (incluindo portugueses), nem políticos – que os há
- com provas dadas em tentativas mais ou menos conseguidas de reforma
do sistema político. Uma pequena clique de jornalistas. Os mesmos
que reiteradamente negam a palavra aos novos partidos
extra-parlamentares ou aos candidatos independentes à Presidência
da República. O que os faz pensar que assim prestam “serviço
público”? O que lhes garante que assim melhoram, porventura, as
audiências? Seguida esta prática pela generalidade das estações
de televisão, nem sequer se tenta a contra-prova...
Após a entrevista de Sócrates à RTP1 – "o fim do silêncio" - ela mesma ilustrativa da preferência doentia por "líderes do passado", em detrimento dos "líderes do futuro" - a própria RTP transmitiu no canal 1 o já habitual "termómetro político" exclusivamente ocupado por... jornalistas; relegando para a RTP informação um debate entre Parlamentares. Que tipo de censura mais ou menos implícita afasta sistematicamente do espaço de debate – que precisa de renovação como de ar para respirar – convidados dos partidos extra-parlamentares? Será pelo argumento da sua modesta representação eleitoral? Mas se a sua exclusão do debate já é causa das modestas votações há-de ser-lhe também consequência? Como podem os cidadãos confiar e votar em quem não conhecem?
Porque não se abre, ainda que
ciclicamente, um espaço de participação dos líderes dos novos
partidos que regularmente lançam iniciativas e propostas
alternativas sobre as questões que afligem a sociedade portuguesa?
Não será isso necessariamente enriquecedor para o debate? Para quê
insistir no debate repetitivo de argumentos já esgotados, por
contendores há muito conhecidos, amiúde empenhados em esmiuçar o
passado, em detrimento da construção de uma esperança futura,
colocando em debate os novos actores que a hão-de protagonizar?
Não se defende aqui a erradicação
dos jornalistas, opinadores ou bloggers do espaço de debate.
Exige-se a partilha deste espaço com aqueles que legitimamente
representam instituições imprescindíveis à Democracia – os
novos partidos. Na sua diversidade, constituem em si mesmos uma das
condições fundamentais da Democracia: o pluralismo. Na sua dura
luta pela sobrevivência e afirmação, num quadro legal
insidiosamente desenhado para a sua progressiva asfixia, alguns
destes ditos “pequenos partidos”, demonstraram ser afinal grandes
em resistência, coragem, convicções e disponibilidade para
trabalhar pela realização do Bem Comum, em detrimento de interesses
particulares que todos sabemos condicionar a acção, no governo ou
na oposição, dos partidos da situação, do dito “arco do poder”.
No princípio, os comentadores eram
convidados e exerciam a função com preocupações de independência
e imparcialidade. Hoje vemos o espaço de comentário político
ocupado por personalidades claramente identificadas com correntes
partidárias particulares.
Noutro tempo, o jornalista ou o repórter
encontrava-se ao serviço da notícia. Hoje parece, pelo contrário,
que para certo “jornalismo televisivo” a notícia passou a estar
ao seu serviço. E embora Churchill afirmasse que “ a política era
coisa demasiado séria para ser feita por jornalistas”... hoje
temos jornalistas como Paulo Portas arvorados em governantes – e
uma miríade de “destacados” assessores.
Pelo "fim do silenciamento" anti-democrático das vozes dissonantes, pedimos a palavra.
A palavra à cidadania! A palavra aos
excluídos. A palavra aos “novos partidos”.
* termómetro ou barómetro? Ainda não se percebeu o que aquilo mede, que unidades e sistema usa... Mal de nós se a temperatura ou a pressão atmosféricas fossem lidas com tamanha discrepância por 3 instrumentos postos lado a lado...
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Contra a manipulação da opinião pública (ou da decisão pública) por jornalistas/comentadores - que por vezes o não são propriamente - vale a pena ler o artigo de João Manuel Tavares que cito em parte:
E vão 10
JOÃO MIGUEL TAVARES
Publico
01/03/2013 - 00:00
Com a ida do jornalista Licínio Lima para a Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, elevam-se para 10 - convém repetir este número: dez - os jornalistas que transitaram da redacção do Diário de Notícias para cargos de nomeação directa do Governo de Pedro Passos Coelho.
[...]
Se exponho isto publicamente é, isso sim, porque a minha consciência me obriga a denunciar, com mais do que palavras vagas, a extrema hipocrisia do Governo de Passos Coelho, que anda por aí a pregar um novo Portugal e uma nova forma de fazer política, e depois continua a encher gabinetes e administrações de jornalistas.
[...]
E diante disto, até eu, que votei no PSD, fico cheio de vontade de cantar a Grândola. É uma vergonha, senhores.