segunda-feira, 25 de junho de 2012

O Crime dos Partidos Descarados




Nuno Serras Pereira
10. 06. 2012

“A justa ordem da sociedade e do Estado é dever central da política. Um Estado, que não se regesse segundo a justiça, reduzir-se-ia a um grande bando de ladrões, como disse (Santo) Agostinho … A justiça é o objectivo e, consequentemente, também a medida intrínseca de toda a política. A política é mais do que uma simples técnica para a definição dos ordenamentos públicos: a sua origem e o seu objectivo estão precisamente na justiça, e esta é de natureza ética.” (Bento XVI, Deus Caritas est, nº 28 a).

Impressiona a glacial desvergonha desaforada do psd e do cds com que publicitam, como se fora algo extraordinariamente audacioso e benigno, uma futura apresentação de propostas para cobrar “taxas moderadoras” para as mães grávidas, no caso do psd, que repitam o abortamento de um filho ou, no caso do cds, para toda e qualquer mãe grávida que queira abortar seus filhos, mesmo que se trate da primeira vez. Esta crueza da “maioria absoluta” que parece assim pretender ocultar a sua perversa identidade sinistra revela pelo contrário um maquiavelismo sádico.
De facto, estas organizações partidárias que agora exercem o poder têm o dever estrito de garantir a justiça reconhecendo e tutelando a igual dignidade de todo o ser humano em todas as fases da sua existência, desde a sua concepção, ou estado unicelular, até à morte natural. Sem este fundamento, isto é, o respeito do direito à vida, não existe nem estado de direito nem democracia nem bem comum. De modo que os políticos que detêm os poderes executivo e legislativo ao cumpliciarem-se com uma lei profundamente e gravissimamente injusta, tendo eles a obrigação e a possibilidade de a eliminar, tornam-se, lamento dizê-lo mas é a verdade dos factos, criminosos cuja ferocidade faz empalidecer e praticamente desaparecer a das organizações mafiosas - basta lembrar não só a quantidade de vítimas mas também a qualificação eminentemente tenebrosa, atroz e desalmada dos assassínios perpetrados: “Dentre todos os crimes que o homem pode realizar contra a vida, o aborto provocado apresenta características que o tornam particularmente perverso e abominável … A gravidade moral (= a injustiça) do aborto provocado aparece em toda a sua verdade, quando se reconhece que se trata de um homicídio e, particularmente, quando se consideram as circunstâncias específicas que o qualificam. A pessoa eliminada é um ser humano que começa a desabrochar para a vida, isto é, o que de mais inocente, em absoluto, se possa imaginar: nunca poderia ser considerado um agressor, menos ainda um injusto agressor! É frágil, inerme (indefeso, desarmado), e numa medida tal que o deixa privado inclusive daquela forma mínima de defesa constituída pela força suplicante dos gemidos e do choro do recém-nascido.” (João Paulo II, Evangelium vitae, 58).
Tudo isto que fica escrito, juntamente com todas as outras coisas que não me tenho cansado de redigir e de citar (por exemplo: O Triunfo da Vida e Ao Gólgota), mostra à saciedade, que não é devido nenhum respeito a qualquer referendo ou “lei” ou promulgação emanadas de qualquer órgão político que admita a ignóbil matança de inocentes. E muito menos que os execute através dos serviços de saúde (!) do estado ou dos que com ele estão concubinados.
No entanto, mesmo para aqueles que absurda e erroneamente consideram que o referendo apesar de não ter sido juridicamente válido o tenha sido politicamente (Cf. A posição anfigúrica, à revelia da doutrina da Igreja, de D. José Policarpo), como o demonstra argutamente a Dra. Isilda Pegado, presidente da Federação Portuguesa pela Vida (cf Público, 07 de Junho de 2012, pág 47), a pseudolegislação actual produzida pela anterior maioria não encontra nele suporte, constituindo mais um abuso infame de poder ao financiar e subsidiar universalmente o abortamento.
O problema do desemprego é seguramente muitíssimo grave mas o principal problema social do país é o abortamento de tantas crianças e se há razão para sair à rua esta é a primeira de entre todas.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

uma falsa ideia de igualdade...

... a propósito do jogo da Ucrânia com a Inglaterra no Euro2012, em que a teimosia da UEFA em não recorrer a meios tecnológicos permitiu que um golo da Ucrânia não fosse validado, acabando esta equipa - país organizador - por perder 1-0 e ver-se eliminada de um torneio para cuja organização tantos sacrifícios houve de fazer. É injusto. E tudo porque, ao que dizem os "espertos" europeus, uma vez que não haveria meios para colocar um "árbitro auxiliar electrónico" em cada estádio, e porque uns jogos têm cobertura televisiva e outros não... em nome da "santa igualdade" levam todos com árbitros humanos, falíveis e corruptíveis, mesmo naqueles jogos em que efectivamente todos esses meios estão presentes e se permite o erro crasso público e notório... para não beliscar uma "igualdade" degeneradamente deificada.

A mesma pseudo-igualdade tem levado a velha Europa a uma decadência voluntária por se pretender levar uma ideia abstracta às suas últimas consequências, ainda que à custa da própria natureza. Assim, por uma questão de "igualdade" de acesso ao aborto por "pobres e ricas", o Estado passa a subsidiar a morte do seu próprio futuro; e a mesma pseudo-igualdade leva a que se trate como casamento, chegando a permitir a adopção de crianças, a dois homens ou duas mulheres, independentemente das consequências que tal "igualdade" venha a trazer às crianças, como um recente estudo da Universidade do Texas em Austin veio demonstrar.

Luís Botelho

quinta-feira, 14 de junho de 2012

«INVERNO DEMOGRÁFICO» o mais grave problema português

in Jornal «Sol», 1 de Junho de 2012, p. 40

Tal como o afirmamos em artigo anterior, o nosso País, juntamente com uma grande parte dos países europeus, enfrenta aquilo a que se convencionou chamar de «Inverno demográfico». Termo que simboliza a grande quebra nas taxas de natalidade - contribuindo para um decréscimo da população - e que não tem merecido a atenção devida por parte das autoridades.
Mas vejamos, de seguida, os dados concretos.
Em 2011, Portugal teve um novo mínimo histórico de nascimentos - pouco menos de 97 mil - quando deveria ter cerca de 160 mil para, pelo menos, haver a tão necessária e fundamental reposição de gerações.
Assim, e se nos permitem, uma questão simples: a quem compete proteger aquela que é a célula base da sociedade – Família - onde se permite contribuir para a dita reposição de gerações?
Na Constituição da República Portuguesa, pode ler-se, no artigo 67, que incumbe, designadamente ao Estado, a protecção da Família, cooperar com os pais na educação dos filhos; e regular os impostos e os benefícios sociais, de acordo com os encargos familiares.
Daqui se segue que, embora haja famílias sem filhos, são os filhos que tornam as famílias mais importantes, uma vez que é a capacidade de gerar filhos que a torna na célula fundamental na sociedade. Mais: é a Família que, através dos filhos, garante que a sociedade resista à natural erosão pelo tempo (gerando um número de crianças igual ou superior à de óbitos), assim como a transmissão dos valores próprios da sociedade em que está inserida.
Ora acontece que, desde há trinta anos, sensivelmente, o número de nascimentos é inferior ao necessário para garantir a fundamental reposição de gerações.
E qual é a situação actual? Esta é a pergunta que se impõe!
Para variar, pior do que se julga. Continuamos a ter discursos bonitos feitos por responsáveis do Governo, mas a situação, na prática, só tem piorado. Em 2011, como dissemos, Portugal teve um novo mínimo histórico de nascimentos, pouco menos de 97 mil, quando deveria ter cerca de 160 mil para haver reposição de gerações.
Nesta altura, pelo menos, os responsáveis deveriam ter adoptado medidas para se inverter, rapidamente, a tendência. E, há menos de um ano, o Primeiro-Ministro declarou que todas as leis passariam a ser objecto de um «visto familiar» para garantir a ausência de impactos negativos na vida familiar
Porém, a realidade tem sido bem diferente. Com o aumento do IVA na factura da electricidade, um bem de primeiríssima necessidade; o disparo dos custos dos transportes públicos; a brutal redução nos abonos de família; o aumento das taxas moderadoras; os combustíveis mais caros, etc. Pior, muito pior: pouca ou nenhuma atenção ao número de filhos no cálculo dos «rendimentos de referência» para atribuição dos benefícios sociais ou taxas moderadoras e de IRS, penalizando, de forma desproporcionada, as famílias com filhos a cargo, tanto mais quanto maior o seu número. Por outras palavras: na prática, uma política fortemente anti-natalista!
É óbvio que, desta maneira, novos mínimos continuarão a ser batidos nos próximos anos até à extinção da sociedade que descuidou totalmente o seu «elemento fundamental» que garantia a sua resistência à erosão pelo tempo!
O que há a fazer?
É simples. Criem-se os incentivos à natalidade ou, pelo menos, acabem de uma vez por todas com as penalizações à natalidade.
É verdade que muitos casais não têm uma rede familiar para ajudar a criar os seus filhos. É verdade que os filhos dão despesa, trabalho e são uma grande responsabilidade. Tudo isto é certo. E eu, como pai, sou conhecedor desta realidade. Mas um mundo sem crianças, sem filhos, que mundo é este?
Inventámos necessidades que as crianças não têm, gastamos dinheiro em roupas de marca, sapatinhos, brinquedos de todo o tipo, equipamentos absurdos para recém-nascidos e bebés mais crescidos, actividades para ocupar os meninos em vez de os deixar brincar à vontade... Tudo isto custa fortunas e as crianças não necessitam nem de um milésimo destas coisas. Por isso é que ter um filho é tão caro! As crianças precisam de uma boa alimentação, uma boa educação e tempo para desfrutar da infância e, sobretudo, de amor, muito amor. O resto é supérfluo. Não incluo aqui as crianças doentes ou com necessidades especiais, como é evidente.
Repare-se que é este «Inverno Demográfico» que Portugal atravessa há 30 anos que mais contribui para gerar no país a contracção económica, desemprego, encerramento de escolas (e como professor o digo) e maternidades e insustentabilidade dos sistemas de saúde e de segurança social.
É nossa convicção de que é possível inverter a actual tendência, tal como outros países já o fizeram, e que essa inversão constituirá – tal como o ensinamos e dizemos a todos os nossos alunos -, não só um contributo para o crescimento económico do País no curto prazo, mas também como um precioso contributo para a sustentabilidade do Estado Social no médio e longo prazos.
Vale a pena pensar nisto!

José Carvalho

N. B. – Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo as normas do (des)Acordo Ortográfico.
(sublinhados do PPV)