Nuno Serras
Pereira
10. 06. 2012
“A justa ordem da sociedade e do Estado é dever central
da política. Um Estado, que não se regesse segundo a justiça, reduzir-se-ia a um
grande bando de ladrões, como disse (Santo) Agostinho … A justiça é o objectivo e,
consequentemente, também a medida intrínseca de toda a política. A política
é mais do que uma simples técnica para a definição dos ordenamentos públicos: a
sua origem e o seu objectivo estão precisamente na justiça, e esta é de natureza
ética.” (Bento XVI, Deus Caritas est, nº 28 a).
Impressiona a glacial desvergonha desaforada do
psd e do cds com que publicitam, como se fora algo extraordinariamente audacioso
e benigno, uma futura apresentação de propostas para cobrar “taxas moderadoras”
para as mães grávidas, no caso do psd, que repitam o abortamento de um filho ou,
no caso do cds, para toda e qualquer mãe grávida que queira abortar seus filhos,
mesmo que se trate da primeira vez. Esta crueza da “maioria absoluta” que parece
assim pretender ocultar a sua perversa identidade sinistra revela pelo contrário
um maquiavelismo sádico.
De facto, estas organizações partidárias que
agora exercem o poder têm o dever estrito de garantir a justiça reconhecendo e
tutelando a igual dignidade de todo o ser humano em todas as fases da sua
existência, desde a sua concepção, ou estado unicelular, até à morte natural.
Sem este fundamento, isto é, o respeito do direito à vida, não existe nem estado
de direito nem democracia nem bem comum. De modo que os políticos que detêm os
poderes executivo e legislativo ao cumpliciarem-se com uma lei profundamente e
gravissimamente injusta, tendo eles a obrigação e a possibilidade de a eliminar,
tornam-se, lamento dizê-lo mas é a verdade dos factos, criminosos cuja
ferocidade faz empalidecer e praticamente desaparecer a das organizações
mafiosas - basta lembrar não só a quantidade de vítimas mas também a
qualificação eminentemente tenebrosa, atroz e desalmada dos assassínios
perpetrados: “Dentre todos os crimes que o homem pode realizar contra a vida, o
aborto provocado apresenta características que o tornam particularmente perverso
e abominável … A gravidade moral (= a injustiça) do aborto provocado aparece em
toda a sua verdade, quando se reconhece que se trata de um homicídio e,
particularmente, quando se consideram as circunstâncias específicas que o
qualificam. A pessoa eliminada é um ser humano que começa a desabrochar para a
vida, isto é, o que de mais inocente, em absoluto, se possa imaginar: nunca
poderia ser considerado um agressor, menos ainda um injusto agressor! É frágil,
inerme (indefeso, desarmado), e numa medida tal que o deixa privado inclusive
daquela forma mínima de defesa constituída pela força suplicante dos gemidos e
do choro do recém-nascido.” (João Paulo II, Evangelium vitae, 58).
Tudo isto que fica escrito, juntamente com
todas as outras coisas que não me tenho cansado de redigir e de citar (por exemplo: O Triunfo da Vida e Ao Gólgota), mostra à saciedade, que não
é devido nenhum respeito a qualquer referendo ou “lei” ou promulgação emanadas
de qualquer órgão político que admita a ignóbil matança de inocentes. E muito
menos que os execute através dos serviços de saúde (!) do estado ou dos que com
ele estão concubinados.
No entanto, mesmo para aqueles que absurda e
erroneamente consideram que o referendo apesar de não ter sido juridicamente
válido o tenha sido politicamente (Cf. A posição anfigúrica, à revelia da doutrina da
Igreja, de D. José Policarpo), como o demonstra argutamente a Dra.
Isilda Pegado, presidente da Federação Portuguesa pela Vida (cf Público, 07 de Junho
de 2012, pág 47), a pseudolegislação actual produzida pela
anterior maioria não encontra nele suporte, constituindo mais um abuso infame de
poder ao financiar e subsidiar universalmente o abortamento.
O problema do desemprego é seguramente
muitíssimo grave mas o principal problema social do país é o abortamento de
tantas crianças e se há razão para sair à rua esta é a primeira de entre
todas.