quinta-feira, 8 de maio de 2008

Birmânia, Democracia, Moção de Censura ao Governo (RCM 08.05.08)

Saudamos os 50 anos da campanha presidencial de Humberto Delgado! Não nos associamos às comemorações no parlamento, na convicção de que - se ele fosse vivo hoje - partilharia connosco uma profunda discordância com o rumo do nosso país, com a partidocracia/plutocracia vigente, com... a "situação". Acreditamos que estaria, connosco, do lado da cidadania activa lutando para mudar o actual estado das coisas - obviamente... sem medo!

A azáfama permanente do actual regime em demonizar o anterior, pretende porventura desviar atenções deste simples facto: «Democracia portuguesa é uma das piores da Europa» – manchete DN 4 de Maio, citando um relatório de uma ONG internacional. No fundo a nossa democracia não o é verdadeiramente e disfarça, proclamando que já houve pior. Nisso, afinal, faz o mesmo que o estado novo demonizando a 1ª república, esta a monarquia... e por aí fora até aos afonsinhos. Não podemos esperar o momento de ver nascer o dia em que um novo regime – verdadeiramente democrático e aberto à cidadania participativa – venha substituir o actual...

Com os militares de mãos atadas, a universidade entretida a contemplar o seu belo umbigo, os partidos a dividir o “saque” e a igreja portuguesa... à espera de um novo D. António Ferreira Gomes, e os portugueses à espera de D. Sebastião, como aqueles 2 “à espera de Godot”, pouco mais nos resta que esperar que esta 3ª república caia de podre.

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Horrorizamo-nos com a dimensão da tragédia na Birmânia e questionamo-nos, como lembrou o Prof. Carlos Borrego em Guimarães na passada 2ª-feira, sobre as nossas responsabilidades globais pelo aumento de acidentes “naturais” extremos (Katrina, El Niño, buraco de ozono, Chernobyl, Bhopal na Índia, etc...). É nossa a culpa, por não prescindirmos de pequenos gestos quotidianos que podiam fazer toda a diferença. Temos de mudar de atitude, poupar energia, colaborar com as cadeias de reciclagem, usar transportes colectivos quando possível, moderar os consumos de toda a ordem, evitar quaisquer processos de combustão desnecessária – emissora de gases de efeito de estufa). A grande “arma de destruição maciça” está a ser inconscientemente lançada por cada um de nós todos os dias... para a atmosfera!!! E horrorizamo-nos com o cinismo da Junta Militar que, indiferente ao sofrimento do seu povo, tem limitado ou em alguns casos mesmo impedido a ajuda internacional. Depois de reprimirem com sangue a revolta dos monges budistas – e que corajoso clero tem a Birmânia... - eis que oferecem à comunidade internacional o mais “flagrante delito” contra o seu povo, contra a humanidade. Não haverá tribunais em Haia – ia a dizer - ou em Guantánamo para tais usurpadores?

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A propósito de “destruição maciça” - por cá, enquanto o país envelhece, a política de Aborto de Estado, executada a nosso mando e com a nossa responsabilidade colectiva, já poderá ter passado as 10.000 vítimas – não se fala disto mas é só metade dos mortos da Birmânia (estimados a princípio em 20.000). Não ajudamos como devíamos as famílias, as mães, a criar os seus filhos... mas (com os nossos impostos) ajudamos o Estado a abortá-los. Este é um erro muito grave que pagaremos caro. Dê por onde der, acabaremos por arrepiar caminho quando percebermos que só um caminho respeitador da Vida, pode ser um caminho de verdadeiro desenvolvimento e de Paz. Apenas sobre esse alicerce poderemos fundamentar um futuro melhor. Dá que pensar o título do GuimaraesDigital «IVG começa a ser um hábito como método contraceptivo», a propósito de uma senhora que já vai no terceiro aborto legal (e a lei só tem um ano) e várias que já fizeram dois abortos... porque não usam qualquer método contraceptivo. O que dizem agora aqueles que convenceram tantos portugueses a votar "sim" à liberalização do aborto, garantindo que as pessoas eram responsáveis e não abusariam da Lei. Estamos a ver o resultado - era mesmo liberalização! Irresponsável é também o legislador que, lá longe no parlamento, ao ver a sua criação assim abusada nada faz nem fará enquanto não tivermos lá forças políticas eleitas por nós com esse compromisso...

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Quando nas presidenciais de 2006 disse que não me revia na dicotomia esquerda-direita, antes na pro-choice, pro-life, falava a sério. Por exemplo, por estes dias era capaz de votar a favor da moção de censura do PCP, na medida em que é uma evidência que a instabilidade laboral leva ao adiamento da prole (em linha com a origem do comunismo, junto do... proletariado!) - é o drama do precariado que, com a nova legislação laboral, o governo pretende estender dos actuais “FERVES – fartos dos recibos verdes”... a toda a gente, com a sinistra – porque discricionária - figura da “inadaptação funcional”. E está por provar se à maior precaridade corresponderá, em grau minimamente próximo, uma redução do desemprego... Só em Braga as últimas estimativas que conheço andam entre os 15% e os 20% de desempregados...

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No fundo o truque socialista é o mesmo da campanha do aborto ou do divórcio – wittgensteinianos jogos de palavras para justificar teoricamente (confundindo) o que moralmente seria inaceitável: o assassínio dos filhos concebidos, o abandono do cônjuge desempregado, o despedimento do funcionário porventura menos graxista! O Estado e a Constituição dão cada vez menos garantias aos cidadãos – de emprego, de segurança, de protecção dos mais frágeis, de inviolabilidade da vida humana - mas mantêm ou agravam o garrote sobre o contribuinte. Ainda chegará o dia em que, como muitos emigrantes que partem, proclamaremos a nossa saturação exigindo um novo regime, um novo pacto social para os portugueses.

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Quanto à moção de censura do PC, previsivelmente só secundada pelo Bloco de esquerda, apetece lembrar-lhes que ainda recentemente, quiçá por imposição da sua velha dogmática, aprovaram duas importantes leis a favor da precarização... Falo da precarização das relações familiares: aborto e divórcio. O povo português vai registando estas inconsistências – quando se entra a considerar umas precaridades boas e outras assim-assim. Ao menos nisso, registamos a grande coerência deste PS do Agente Técnico José Sócrates – trabalha afincadamente para mostrar que é a mãe (ou o pai) de todas as precarizações. Resta saber-se o que dirão sobre tudo isto os portugueses no momento de votar...