quinta-feira, 26 de junho de 2008

Ressonâncias da 1ª velada em Guimarães

GUIÃO DA 1ª “Velada pela Vida” em Guimarães, 25.06.2008 (formato PDF)
clicar aqui


Movimentos pró-vida concentram-se esta noite frente ao Hospital de Guimarães.


A “Velada pela Vida” foi marcada por SMS ou e-mail através de uma mensagem onde se pedia aos que são solidários com a causa da vida que se juntassem junto ao hospital que consideram ser um motivo de preocupação pelo número de abortos realizados.

Em seis meses foram realizados 134 abortos.


Luís Botelho Ribeiro, que dá a cara pela realização da vigília, diz que este momento de meditação serve para alertar consciências.

“O que falta é consciência da dignidade da vida”, disse.

CC

RUM - Rádio Universitária do Minho


Aborto: Movimentos "pró vida" convocam concentração em frente ao ...

terça-feira, 24 de junho de 2008

«Velada pela Vida» em Guimarães e Lisboa, 25.06.08 pelas 21h30

Pelas 21h30

Em Lisboa:
Frente à Clínica dos Arcos, R. Mãe de Água, nº 15A

Em Guimarães:
Frente ao Hospital de N. Srª da Oliveira

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O VALOR INCOMPARÁVEL DA PESSOA HUMANA”

(Evangelium vitae, 2)

“O homem é chamado a uma plenitude de vida que se estende muito para além das dimensões da sua vida terrena, porque consiste na participação da própria vida de Deus.

A sublimidade desta vocação sobrenatural revela a grandeza e o valor precioso da vida humana, inclusive já na sua fase temporal. Com efeito, a vida temporal é condição básica, momento inicial e parte integrante do processo global e unitário da existência humana: processo que, para além de toda a expectativa e merecimento, fica iluminado pela promessa e renovado pelo Dom da vida divina, que alcançará a sua plena realização na eternidade (cf. 1 Jo 3, 1-2). Ao mesmo tempo, porém, o próprio chamamento sobrenatural sublinha a relatividade sagrada que nos é confiada para a guardarmos com sentido de responsabilidade e levarmos à perfeição no amor pelo Dom de nós mesmos a Deus e aos irmãos.

De modo particular, devem defender e promover este direito os crentes em Cristo, conscientes daquela verdade maravilhosa, recordada pelo Concílio Vaticano II: «Pela sua encarnação, Ele, o Filho de Deus uniu-Se de certo modo a cada homem» (Redemptor hominis 10). De facto, neste acontecimento da salvação, revela-se à humanidade não só o amor infinito de Deus que «amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu filho único» (Jo 3, 16), mas também o valor incomparável de cada pessoa humana. ...”

domingo, 22 de junho de 2008

Agora também no Brasil - protecção constitucional da Vida Humana faz caminho

Concordando com a tese do PPV que vimos defendendo desde o início (pág. 15), oxalá possa o Brasil colocar brevemente em prática este ponto de clarificação da constituição
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Brazilian Pro-Lifers Seek to Amend Constitution to Protect Life "From the Moment of Conception"

By Matthew Cullinan Hoffman

BRASILIA, April 11, 2008 (LifeSiteNews.com) - In the wake of the recent Supreme Court decision to legalize deadly embryonic stem cell research, pro-life forces in the Brazilian National Congress are seeking to amend the Constitution to clarify its protection of all human life, from conception to natural death.

Miguel Martini, a representative in Brazil's Chamber of Deputies, is the author of the amendment, which will add the words "from conception" to the already existing guarantee of "the inviolability of the right to life" in Article 5.

"If the Constitution says that, the Supreme Court's decision will be overridden," Martini told Correio Braziliense. "One can't trade a life for a cure."

Martini is referring to the claim made by advocates of embryonic stem cell research that cures for a variety of diseases may be created through the destruction of human embryos. In addition to the moral objection against killing an innocent human life, opponents of embryonic stem cell research observe that not a single approved cure has resulted from it to date, while adult stem cell research (which does not destroy human life) has resulted in over 70 approved cures.

Under the Constitution of Brazil, an amendment can be proposed by one-third of the members of the Chamber of Deputies (lower legislative house) or the Senate, and must be approved by two-fifths of both houses to become law.

Although the nation's Supreme Court has at least a marginal anti-life majority, the Congress has recently shown more pro-life tendencies, which reflects the strongly pro-life sentiment of the Brazilian public. A recent vote in the Chamber of Deputies' Social Security and Family Committee unanimously killed an abortion decriminalization bill that had been in process since 1991 (see LifeSiteNews coverage at http://www.lifesitenews.com/ldn/2008/may/08050809.html).

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Veladas Pela Vida - 25 Junho 21h30


Em Lisboa
R. Mãe de Água, nº 15A

Em Guimarães
Frente ao Hospital de N. Srª da Oliveira

Portugal desmoralizado

do cidadaniaPT

Sim, [...] Portugal perdeu... mas não ontem! Tem vindo a perder a Paz de espírito, a tranquilidade de consciência e um certo "estar-de-bem-consigo" que nos vinha ajudando a transcender-nos nos últimos anos, muito fruto de um sentimento de grande união nacional (salvo seja). Por que razão, não se viram desta vez tantas bandeiras nas janelas? Por que não se respirava um ar de tanto optimismo como das passadas duas vezes?

Pode-se alegar que, em 2004, o campeonato era cá e o enorme esforço do país na organização tinha o seu escape naquele mês dos jogos... Certo. Mas em 2006 não foi cá... e também o entusiasmo foi bastante maior que agora, parece-me. Que aconteceu então? Será que a situação económica está muito pior do que então? César das Neves em artigo recente chama a atenção para alguns indicadores que desmentem uma degradação real e generalizada da economia portuguesa, apesar de um evidente "afundamento" da classe média.

[...] Portugal vive estes dias, este último ano, como a selecção parece jogar: de consciência pesada, com a angústia e intranquilidade de quem anda de mal com a Vida, de mal consigo mesmo. E quem assim anda, não consegue... o que empreende, as pequenas ou grandes coisas que se propõe realizar competindo com outros. Pode-se dizer que há países e povos que conseguem render quase o mesmo nessas condições. É verdade para outros, mas não para nós. Nós somos aqueles aos quais "o fraco Rei, faz fraca a forte gente".

Nós somos aqueles cujo "Rei" - desde 2005 - o que quer para Portugal é um país cada vez mais envelhecido, com menos crianças, com menos "famílias tradicionais" a empatar-lhes os planos "progressistas" de mais e mais abortos, mais e mais laicismo de Estado, mais e mais divórcio simplex, casamentos homo, menos padres nos hospitais, menos religião, menos santos e nenhuns crucifixos na escola pública, menos "moral" nos currículos. E quando toda a sanha do poder está em retirar a moral ao povo, não é surpresa que este... desmoralize!

Desde há um ano que Portugal vive uma situação de surda "guerra civil", como a de 1832, com portugueses a matar portugueses... covardemente nas clínicas do aborto e até nos hospitais públicos. Desde há um ano que o Estado porfia em atacar a consciência ética dos médicos e enfermeiros, pressionando de forma inaceitável os códigos deontológicos das respectivas ordens profissionais. Desde há um ano que a palavra "imposto" tem uma componente de sangue que Portugal não experimentava dolorosamente na sua consciência ensanguentada, desde a guerra colonial. Hoje pagamos impostos - sem alternativa possível - sabendo que esse dinheiro é usado para liquidar irmãos nossos de dez semanas, se calhar até de mais... Para liquidar o nosso futuro, portanto.

E querem que nos unamos em torno da selecção, se alguém nos pôs já - e da forma mais violenta - "portugueses contra portugueses"? Querem que na euforia duma campanha futebolista, entretanto interrompida sem glória e sem grande brilho, esqueçamos a campanha de mentiras que nos impingiram para fazer passar a outra "interrupção", que não é interrupção nenhuma? E se dessem a referendar aos portugueses uma "interrupção das participações nos campeonatos de futebol" que... significasse afinal não participar em mais nenhum? Mas não, no futebol a interrupção do "sonho português" de ontem significa uma nova oportunidade já em Setembro, com o arranque da qualificação para o "mundial". Nos referendos à "vida humana", pelo contrário, todos os eufemismos são permitidos - e uma "interrupção" ou até um "tratamento voluntário da gravidez" (como anunciam impunemente as páginas de alguns jornais sem Valores) significa "acabou-se", "morreu", "tudo está consumado".

Mais profundamente do que a "crise dos combustíveis" ou o "afundamento da classe média", é esta "guerra civil" que está a matar Portugal, a esvaziar-lhe as creches e infantários por todo o lado e a encher-lhe a selecção e os "quadros de pessoal" de (benvinda) gente nascida em outras terras... e de que precisamos por conscientemente deixarmos secar a nossa terra e saquear o nosso mar.

Mas se tanto mal nos pode chegar pela porta mal-guardada dum "fraco Rei", anime-nos essoutra esperança de que por um "forte Rei" o nobre povo se possa reencontrar consigo mesmo, nação valente e imortal(?). A "nova Águia" tem-se feito voz dessa promessa renovada em silêncio à mesa das casas portuguesas durante os sessenta anos dos Filipes ou "a catástrofe" com Junot. A promessa de que, qual Tigre da Malásia...
... Portugal não morreu. Portugal não morrerá!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

A VERGONHA DA AUTÊNTICA CRISE SOCIAL

por João César das Neves

Portugal vive grave crise social. Toda a gente sabe isto. Os jornais repetem diariamente os contornos do drama, sucedem-se manifestações e protestos, a oposição orienta nesse sentido as críticas crescentes. Ninguém tem dúvidas de que, em vez das prometidas recuperação e prosperidade, caímos em séria perturbação económica. Mas o que está mesmo a acontecer de novo? Quais os factos concretos que sustentam este clima depressivo? Onde está a tão propalada crise social?

Quem pretender responder séria e serenamente a estas questões encontra obstáculos inesperados. A economia não está em recessão, nem sequer próxima; o crescimento económico abrandou ligeiramente do nível baixo que tem há anos. O desemprego não subiu, nem se prevê que venha a subir muito para lá do nível alto em que permanece há bastante tempo. Mesmo nos preços, em que os rumores dos mercados do petróleo e alimentos prometem terríveis desenvolvimentos, as mudanças são mínimas: a inflação acelerou, mas para níveis aceitáveis e, apesar dos esforços jornalísticos, nunca mais se dá um efeito sério que justifique tanto barulho. De facto, o cenário económico que as instituições respeitáveis traçam para o futuro próximo do nosso país não é catastrófico. Pelo contrário, parece copiado da situação que vivemos há algum tempo.

Nos indicadores sociais, pobreza e desigualdade, o quadro disponível ainda se refere apenas a 2006. Devido à superior complexidade do fenómeno, os números andam atrasados e ninguém arrisca previsões seguras. Mas também aí a situação parece ser de continuidade. A taxa de pobreza em Portugal, calculada segundo as regras da UE, há dez anos que flutua à volta de 20% da população. O último valor publicado, de 2006, até registou uma descida para 18%. Os desenvolvimentos posteriores assinalam uma redução, não um aumento da indigência. Os pobres não têm automóvel e não são muito afectados pelo preço do petróleo. Além disso os empregos não especializados têm grande procura e falta de candidatos. Como entretanto a imigração abrandou e a emigração aumentou, é provável que a referida tendência de redução dos pobres continue após 2006.

Na desigualdade de rendimentos passa-se um fenómeno paralelo, com a situação estável há mais de uma década. Os jornais dão grande impacto à notícia de que somos um dos países da Europa com maior disparidade. Isso é verdade, e é há muito tempo. E nem sequer diz grande coisa, dado que estamos a comparar-nos com os países de menor desigualdade do mundo. É verdade que o fosso entre ricos e pobres subiu entre nós face ao que tínhamos antes da democracia. Isso seria sempre inevitável, devido ao desenvolvimento, agora agravado pela globalização. O problema merece atenção cuidada, mas está longe de ser a prioridade aflitiva que os propósitos mediáticos afirmam.

Quer tudo isto dizer que não temos uma crise social? Não. Quer dizer que a crise que sofremos é bastante mais subtil e complexa do que as abordagens comuns asseguram. Existem muitos sinais, não de um agravamento do fundo da escala social, mas de sérias dificuldades nos extractos imediatamente acima. A nossa crise social está na classe média.

Uma parte importante da população portuguesa, que tinha algumas posses e muitas ambições, acreditou nos discursos que os governantes andam a produzir há dez anos. Apostou na educação, comprou casa e carro, endividou-se ao banco. Depois veio o desemprego, doença, trabalho precário, prestações crescentes. Em vez de subir, caiu em grandes dificuldades. Normalmente ainda tem património, a casa hipotecada, carro velho, mas não sabe o que porá no prato esta noite. É uma pobreza envergonhada, desiludida, revoltada. Este é o verdadeiro rosto da nossa crise social.

As políticas contra a pobreza não vão aliviar as dificuldades. Como os responsáveis, que criaram a situação, ainda não a perceberam, conceberão medidas complexas, mas ao lado dos sofrimentos. Alvoroçados, não pelo problema, mas pelo ataque político, proporão programas que calem os críticos, sem resolver o drama.


João César das Neves
professor universitário
naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

sexta-feira, 13 de junho de 2008

«Veladas pela Vida» em Guimarães

As "Veladas pela Vida" consistem em momentos de oração do terço diante de locais onde se praticam abortos pelas 21h00 do dia 25 de cada mês. A iniciativa arrancou no passado dia 25 de Maio em Lisboa com a participação de largas dezenas de pessoas. Guimarães associa-se agora a este movimento que visa reafirmar que o aborto não é solução e relembrar à sociedade portuguesa que o aborto faz vítimas inocentes.

Estas vítimas, porém, não são abandonadas ou esquecidas por todos. Rezaremos por elas da mesma forma que dezenas de voluntários estão a falar com as mulheres que se dirigem às clínicas abortistas, tendo já conseguido salvar pelo menos DUAS VIDAS!

Esta primeira "Velada pela Vida" decorrerá frente ao Hospital de N. S.rª da Oliveira no próximo dia 25 de Junho, pelas 21h30, ao mesmo tempo que outros o fazem em Lisboa frente à "Cínica dos Arcos". Tragam um terço e uma vela com copo. Passem palavra a quantos estejam solidários com a Causa da Vida, a sacerdotes e leigos, a grupos de jovens e outros movimentos de Igreja.


Cartaz da primeira noite de oração realizada em Lisboa no mês de Maio

quinta-feira, 12 de junho de 2008

COMUNICADO

Na sequência de algum mal-entendido gerado por declarações do seu representante em Guimarães (ver anexo 1), o Sr. Luís Paiva, vem o movimento Portugal pro Vida solidarizar-se com aquele seu porta-voz e apoiar integralmente as suas declarações às rádios vimaranenses Fundação e Santiago. É verdade que entre os promotores do movimento há colaboradores e mandatários do "Minho com Vida" (MCV) que, sem qualquer retribuição ou um simples agradecimento do seu ex-coordenador, Prof. Fernando Almeida, deram o melhor do seu esforço e entusiasmo em diversas secções daquele movimento constituído no Minho para defender o "não" no referendo ao aborto. Que esta informação seja dada, a par de outras, para enquadrar a génese do movimento Portugal Pro Vida parece-nos absolutamente natural e tão justificável como a que consta do site da "Associação In Famílias" (anexo 2), liderada pela mesma personalidade a qual, possivelmente sem escutar atentamente aquelas declarações, entendeu dever criticá-las e até demarcar-se de um movimento com o qual nunca teve qualquer relação, como aliás resultava claro da citada entrevista. Se pudesse ser considerado minimamente abusiva a menção do movimento PPV - Guimarães ao MCV, com uma simples referência (como foi o caso) ao trabalho aí desenvolvido por elementos seus, então também seria abusiva a referência que consta do site oficial da In Familias, o que manifestamente não é o caso.

O PPV considera meritórias as boas intenções que presidiram à criação da Associação In Famílias, a quem saúdam pelo primeiro ano de trabalhos concluído em Maio, mas entende que é necessária uma intervenção de mais cidadãos inspirados pela Doutrina Social da Igreja no terreno da politica. O facto de algumas pessoas do MCV terem optado por um tipo de intervenção cívica diverso da In Famílias é igualmente respeitável e de modo nenhum pode considerar-se abusiva a breve menção feita ao Minho com Vida, nos justos termos em que foi feita pelo nosso responsável em Guimarães, o Sr. Luís Paiva, um dos mais denodados e eficientes elementos do Minho com Vida em Guimarães, como poderá confirmar o presidente daquela secção.


Comissão Instaladora Nacional

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Anexo 1
http://www.radiofundacao.net/index.php?option=com_content&view=article&id=245:minho-com-vida-demarca-se-de-novo-movimento-politico&catid=45:sociedade&Itemid=65

«O ex-coordenador do Minho Com Vida, movimento formado durante a campanha para o referendo ao aborto, veio demarcar-se do movimento que esta semana anunciou estar a preparar-se para se constituir num partido político.

Fernando Almeida considera que Luís Paiva, responsável pelo núcleo de Guimarães, usou “abusivamente” o nome do movimento contra o aborto, quando referiu, em declarações à Rádio Fundação, que a iniciativa partiu de elementos que integraram o movimento “Minho Com vida”. [...] »


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Anexo 2

http://www.infamilia.org/info.php

«Como surgiu a In Familia?

A Associação surgiu a partir da união de esforços de vários colaboradores do Movimento Cívico "Minho com Vida” que, após o referendo da liberalização do aborto, a 11 de Fevereiro de 2007, sentiram a necessidade de prosseguir o trabalho desenvolvido, aquando da realização da consulta popular. [...] »

Irlanda, combustíveis, Velada pela Vida, RCP 12.06

  • O caso recente do bebé que “ressuscitou” (vd. Blogue portugalprovida) ou o caso de morte cerebral que recuperou para uma vida normal impõem-nos uma revisão dos critérios médico-legais da Vida. Talvez a questão utilitarista (e por vezes monetarista) do transplante de órgãos deva ceder lugar ao primado do Direito à Vida do doador... antes de o ser. É que em tudo isto exerce uma obscura mas poderosa pressão o factor económico. Levantou-se essa questão aquando do assassinato da religiosa que em Moçambique mais activamente denunciava os “caçadores de órgãos” a soldo de grandes clínicas europeias e americanas... O que mudou?

  • a “Velada pela Vida” de 25 de Junho pelas 21h30 frente ao Hospital de N.S. Da Oliveira em Guimarães. Afinal parece que nem todos se esqueceram de que o aborto faz vítimas – os bebés e as mães, e a sociedade e o Estado têm de encontrar outras respostas – que não o aborto - para as dificuldades reais sentidas pelas mães, pelas famílias.

  • Crise dos combustíveis: estamos a entrar no "cada um por si"... camionistas, pescadores o que reivindicam é isenções e atenções... para si. Cada um tenta desenrascar-se como pode, salvar-se a si e deixar o “regime geral” pagar a crise. Antes pintavam-se os muros a exigir aos ricos que pagassem a crise... Agora, sem sujar os muros (e nesse sentido vamos melhor), exige-se isso mesmo ao contribuinte... Então e os professores, escolas de condução, advogados, vendedores ambulantes, pequenos distribuidores, comerciantes, tantos e tantos profissionais que também dependem dos transportes para trabalhar? Também vão ter ISP reduzido? Ou há moralidade ou "comem" todos... Também pode acontecer que estes (seguramente a imensa maioria) optem por acatar serenamente o que o governo decida agora e... prefiram manifestar-se mais tarde no momento das eleições! Vamos mal quando, em vez de enfrentarmos juntos as dificuldades entramos no “cada um por si” - e já começámos há algum tempo: O “cada um por si” de algumas mães que abortam os filhos como quem bebe um copo de água (algumas já vão no terceiro e quarto aborto legal – e a lei ainda mal fez um ano...; o “cada um por si” dos políticos que reclamam para si privilégios e reformas escandalosas; o “cada um por si” das grandes superfícies que à volta secam o comércio tradicional; o “cada um por si” dos sindicatos dos que têm emprego e esquecem que certas exigências que fazem são pão para os seus e fome para os outros (para os desempregados) – para quando os sindicatos de desempregados? Já há o FERVE para os “recibos verdes”. Pode ser um começo, quando este se sentar à mesa da concertação social...

  • Os Irlandeses estão neste mesmo dia a referendar o Tratado de Lisboa. A sociedade está dividida sobre o tema. Registamos o quase silêncio da imprensa portuguesa sobre o assunto até hoje e perguntamo-nos se tal será inocente. É bom ver que em pelo menos um país os políticos não se atreveram a passar por cima dos cidadãos, prescindindo de os atender como aconteceu em Portugal. Interessante será acompanhar o que sucederá se o povo irlandês vier, escandalosamente, a contrariar a expectativa e a pressão de Bruxelas. Se o princípio democrático vale de facto alguma coisa, também seria interessante analisar a que ponto a comissão europeia se manteve perfeitamente neutra e isenta neste processo. Instâncias que volta e meio multam os governos se calhar também mereciam às vezes que lhes aplicassem multas. Depois de um longo processo de formação de opinião, parece que os irlandeses inicialmente inclinados para aprovar o tratado (como aqui já referimos) agora pendem para o NÃO. Se tal se confirmar (e amanhã o saberemos) essa será a melhor lição que os cidadãos algumas vez deram ao directório de Bruxelas, que mesmo depois do não da França e Holanda à primeira forma do tratado (constituição europeia), insistem em pôr as coisas segundo os seus termos e não segundo os termos dos cidadãos. Uma honra para Portugal onde vive o herdeiro da dinastia real irlandesa – os O'Neill que à cultura portuguesa deram já um grande poeta, Alexandre O'Neill, e ironicamente o famoso poema do “Cherne”, a cuja sombra se cunhou a alcunha do actual senhor Europa. Senhores da Europa, façam o favor de seguir o verdadeiro Cherne, o Cherne de O'Neill e recordem os Princípios - Participação, Subsidiariedade, Verdade e, já agora, Humildade.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Como se distingue um católico em política?

por Giorgio Vittadini* (publicado em il Giornale 06.06.2008)

Prossegue, praticamente sem solução de continuidade, a discussão sobre o papel dos católicos na vida política. Depois das avaliações sobre o seu peso no novo governo, destacados representantes da oposição alertaram muitas vezes para o perigo de que a Igreja se apresente como organização de alguma forma ao serviço do poder. Como frequentemente sucede, o problema é outro, não esquematizável nesta tosca e retrógrada contraposição. A quem está preocupado com a presença – escassa ou excessiva, consoante se encare da direita ou da esquerda – dos católicos no poder recorde-se o que respondeu Luigi Guissani numa entrevista de 1996 a Pierluigi Battista no La Stampa. À pergunta: «O senhor sente-se mais seguro com um cristão no governo?», o sacerdote milanês respondeu: «Não. O problema é a dedicação sincera ao bem comum e uma competência real e adequada. Pode haver um cristão imerso nos problemas eclesiásticos cuja honestidade natural e competência podem deixar dúvidas».

Muitos exemplos nestes sessenta anos de história republicana demonstram-no. A partir dos anos Cinquenta, muitos católicos, paradoxalmente aliados dos que hoje têm medo das intervenções da Igreja, converteram-se nos mais acérrimos defensores, mesmo no período mais recente, dum estatalismo “bom”, na origem de grande parte dos males actuais do nosso país. Mas então, para evitar o risco de um poder como finalidade de si mesmo, será preciso refugiar-se num espiritualismo desencarnado? De preferência, como disse o pontífice na assembleia-geral da CEI, face ao desafio do relativismo e do nihilismo que a todos afecta, são precisos «educadores que saibam ser testemunhas credíveis dos valores e realidades sobre as quais é possível construir quer a existência pessoal quer projectos de vida comuns e compartilhados».

O cristianismo tem uma incidência histórica real quando é vivido não como uma ideologia teórica, mas como uma experiência pessoal em que se olha e se segue a Presença misteriosa e amiga que habita a realidade. Quem vive assim torna-se útil a toda a companhia humana – como o prova a história do nosso país – porque toma consciência do desejo de bem que alberga no seu coração, torna-se capaz de captar as verdadeiras necessidades de qualquer homem, começa a construir obras que são formas de vida nova, sabe exigir à política que salvaguarde a afirmação daqueles valores que tornam mais humana a convivência de todos. E, se faz política, renova-a, com paciência, a partir de dentro, seja qual for a situação de poder em que se encontre ou seja qual for a sua função.



* Presidente da Fundação para a Subsidiariedade.

Bebé inglês sobrevive a aborto

sua mãe agora "não o trocava por nada no mundo"

.- Jodie Percival é uma jovem de 25 anos de idade que tentou abortar o seu filho Finley porque este sofria de uma doença congénita no rim. A jovem apercebeu-se de que o filho não fora eliminado semanas depois ao realizar uma ecografia. A principio teve pena que o aborto tivesse falhado; e estando dentro do prazo legal em Inglaterra para poder fazêr-lo novamente, decidiu enfim conservar o seu bebé.

Thane, o primeiro filho de Jodie Percival, viveu somente durante 20 minutos após o parto prematuro em que nasceu, porque padecía da mesma enfermidade congénita que Finley. O seu segundo filho, Lewis, que ja tem 20 meses, nasceu com o mesmo problema e agora vive com um único rim.

Quando Jodie engravidou pela terceira vez, ela e o seu noivo Billy Crampton decidiram abortá-lo. "Decidir acabar às 8 semanas foi horrível… mas não podia enfrentar a angústia de perder outro bebé", disse Percival ao Daily Mail de Inglaterra.

Tempos depois do aborto, Jodie sentiu movimentos no seu ventre. O seu médico disse-lhe que se faria uma ecografia, perante a qual se verificou que estava com 19 semanas de gravidez. O bebé tinha sobrevivido à prática anti-vida. "Mal podia acreditar. Este era o bebé que eu pensei que já tinha eliminado", comentou àquele jornal inglês.

"De princípio estava indignada com o que se passara, que o procedimento tivesse falhado. Escrevi ao hospital, porque não podia acreditar que me tivessem decepcionado daquela forma. Responderam-me que se tratava de uma situação muito pouco usual".

Uma semana mais tarde, Jodie e o seu noivo souberam que Finley também tinha problemas nos rins, porque ela possui um gene que origina o rim multicístico, uma desordem congénita que produz quistos nesta parte do organismo. Os médicos explicaram aos pais que este menino poderia sobreviver razão pela qual decidiram dar-lhe uma oportunidade e não abortá-lo, estando dentro do prazo legal durante o qual o aborto é permitido em Inglaterra.

Em novembro Finley nasceu três semanas antes do previsto pesando uns três quilos. Tem um problema menor no rim mas segundo os médicos, poderá fazer uma vida normal.

"Mal podía acreditar, depois de tudo por que este menino passou, que agora pareça tão perfeito. Custa-me pensar no que teve de passar. Agora está aqui e não o trocava por nada deste mundo", afirma Jodie.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Futebol e Vida

breve reflexão a propósito do campeonato mundial/europeu de futebol *

Joseph Ratzinger


Regularmente, cada quatro anos, o campeonato do mundo [e da Europa] de futebol afirma-se como um acontecimento que reúne à sua volta centenas de milhões de pessoas. Dificilmente um outro fenómeno mundial consegue alcançar uma tão vasta influência. Isso mostra que este fenómeno toca algo constitutivo do ser humano, e leva-nos a perguntar pela razão da força que este desporto tem.

O pessimista dirá que acontece o mesmo que na antiga Roma. Os slogans das massas eram: panem et circenses, pão e circo. Pão e jogo seriam os valores duma sociedade decadente, que não conhece fins superiores. Mesmo que aceitemos esta informação, não seria de maneira nenhuma o suficiente.

Mais uma vez teria que se perguntar: Onde reside a fascinação deste jogo, que se apresenta com a mesma importância que o pão? Podíamos responder olhando novamente para Roma, dizendo que o grito pelo pão e pelo jogo mais não é que a expressão do desejo duma vida paradisíaca, uma vida de fartura sem esforço e da realização da liberdade. Na realidade, é o que se insinua com o jogo: uma actividade totalmente livre, sem o limite dos fins e da necessidade, e que, no entanto, mobiliza e satisfaz todas as energias do ser humano.

Nesta perspectiva, o jogo seria uma tentativa de regresso ao paraíso, a fuga da seriedade escravizante do dia-a-dia com a sua disciplina, para a seriedade livre, sem imposições, que, justamente por isso, se toma mais bela.

Nesse sentido, o jogo ultrapassa, em certo modo, a vida do dia-a-dia; mas tem também, sobretudo na criança, ainda um outro carácter. É exercício para a vida. Simboliza a própria vida e é dela uma antecipação descontraída.

Parece-me que a fascinação do futebol consiste, essencialmente, em que reúne em si estes dois aspectos de forma convincente. Primeiro, obriga o homem a dominar-se, de tal forma que, através do treino, ganha o domínio sobre si mesmo. Com o domínio supera-se e, superando-se, toma-se mais livre. Mas também lhe ensina a disciplina do conjunto: como jogo de equipa, obriga-o a subordinar o próprio ao todo. Une-os num objectivo comum. O sucesso ou o insucesso de um está ligado ao sucesso e ao insucesso do todo.


Por fim, ensina o respeito mútuo, onde a aceitação de regras por todos respeitadas, faz com que apesar da contenda como adversários, subsista, por fim, aquilo que os une e unifica.


Além disso a liberdade do jogo, quando realizada de forma correcta, transforma a seriedade do jogo contra o adversário em liberdade, logo que o jogo termina. Os espectadores identificam-se com o jogo e com os jogadores, e participam no seu empenho e na sua liberdade, ora apoiando, ora protestando. Assim, os jogadores tornam-se símbolo de suas vidas. Isto reflecte-se nos próprios atletas. Eles sabem que os homens se sentem em si representados e confirmados.

Naturalmente que tudo isto pode ser adulterado por uma mentalidade comercial, que tudo submete ao rigor sombrio do dinheiro. Assim, o desporto deixa de o ser e transforma-se numa indústria, um mundo fictício de dimensões assustadoras. Mas mesmo este mundo fictício não poderia subsistir, se não tivesse um substrato positivo, subjacente ao jogo: o exercício preliminar da vida e a travessia da vida como caminhada em direcção ao paraíso perdido. Em ambos os casos, trata-se de procurar uma disciplina para a liberdade. Na aceitação de regras da convivência, nos confrontos e no encontro consigo mesmo. Na medida em que reflectimos nisto, tendo o jogo como ponto de partida, talvez possamos aprender de novo a vida. No jogo torna-se claro algo fundamental: o homem não vive só de pão. Na realidade, o mundo do pão não é mais que a antecâmara do que é efectivamente humano, o mundo da liberdade. Mas a liberdade vive de regras, da disciplina que a convivência e a recta oposição, a independência do êxito exterior e da arbitrariedade nos ensina, tornando-nos, assim, verdadeiramente livres.

O Jogo e a vida - se reflectimos em profundidade, o fenómeno do campeonato do mundo de futebol pode ser mais do que uma diversão.

* Fonte: "Esplendor da Glória de Deus", Cardeal Ratzinguer, Ed. Franciscana, 2007, pág. 187

terça-feira, 3 de junho de 2008

FAMÍLIA, EMPRESA, TRABALHO, por António Bagão Félix

(AESE, 29 de Maio de 2008)

0. Felicito a AESE por este programa “Empresas Mais Familiarmente Responsáveis (E+FR)” que segundo as palavras do Prof. Raul Diniz procura sensibilizar o mundo empresarial em “rega gota a gota” que é a mais adequadas para terras áridas.

Ora é sobre esta introdução do “regadio” na cultura familiar das empresas que me pediram para dizer umas palavras. Faço-o com gosto.

Ao longo desta minha intervenção procurarei sobretudo incidir sobre quatro pontos:

  • A importância da família
  • O desenvolvimento da cidadania empresarial
  • As mudanças na natureza e nas formas do trabalho
  • A conciliação dos tempos de vida na família e no trabalho

1. Sobre a família já tudo foi dito, escrito e proclamado. Por quem nela deposita o magistério da esperança, e também por quem dela desdenha, desconfia e até prognostica o seu obituário.

Não há político, sociólogo ou opinador que não nos pregue um bom “sermão” a propósito da família. Poder-se-á afirmar que a convergência verbal ou nominal está assegurada quanto ao papel desta instituição básica da sociedade, mas que, ao invés, a divergência real é visível entre o verbo e a vontade, entre o encómio e a convicção, entre as intenções declaradas e as acções encetadas.

Não há um dia em que a família não seja objecto de proclamação pelo mundo fora. Aliás, o mesmo acontece com a paz. No entanto, é da chamada crise da primeira e da ausência da segunda que a actualidade se alimenta freneticamente.

Mas sejamos claros: de entre todas as sociedades humanas, a família é a única natural. Natural, universal e intemporal. Nasceu com o Homem e existe antes do Estado.

O seu fundamento é antropológico. Não foi inventada cientificamente, não resulta de qualquer legado jurídico, não foi imposta por qualquer acto administrativo, não germinou fruto de uma qualquer ideologia, não é o resultado de meras circunstâncias ou contingências históricas.

A família não é de esquerda ou de direita, nem é politicamente apropriável, E também não é laica ou confessional. É antes o mais perene património da humanidade, um bem para todos e não um mal para alguns. A família radica na pessoa humana e não no reconhecimento do Estado. A família não é, portanto, para a sociedade e para o Estado, antes a sociedade e o Estado são para a família (Conselho Pontifício Justiça e Paz, 2004).

Por ser natural, confere o mais genuíno dos sentidos à nossa tripla condição de indivíduo irrepetível, de pessoa que exprime a dignidade e o respeito do ser humano, de cidadão portador de direitos e de deveres. Afinal a tripla condição em que também nos movemos na empresa…

2. A instituição familiar continua a ser a primeira e a mais decisiva infra-estrutura moral e referencial na conjugação de valores e de saberes e na transmissão de solidariedade na sua forma talvez menos elaborada, mas mais espontânea e genuína.

No entanto, muitas vezes a família é desconsiderada – e diga-se em abono da verdade – não apenas pela sociedade politicamente organizada – o Estado – e por outras sociedades, mas por famílias que tendem a demitir-se dos seus papéis vencidos pela pressa, pela angústia, pela indiferença, pela acomodação, pela resignação. Quantos filhos órfãos de pais vivos (palavras de S. S. João Paulo II), quantos filhos de pais a tempo cada mais parcial, quantos avós de netos distantes não sofrem a ausência da família? Quantas refeições se transformam em salas de espectáculo televisivo ou de catarse profissional? Quantas vidas não se transformaram em contra-relógios de circunstância?

E, todavia, na família, como afinal na vida e na empresa, sabemos que o importante não é dissolúvel no meramente urgente, avulso ou superficial, porque o importante na família nem sempre é urgente, raramente é avulso e jamais é superficial.

O sentido de família está sempre presente no nosso quotidiano como referência e valor. Assim é que dizermos que “não há nada melhor do que um bom conselho de família”, que desejamos ter um bom “médico de família”, que temos uma relação afectuosa com a expressão “abono de família”, que sempre desejamos ser um “bom pai de família”, que nos orgulhamos enquanto amigos de alguém de dizer que quase “fazemos parte da sua família”, que segredamos algo para “ficar em família”, que gostamos de uma qualquer empresa ou restaurante pelo seu “ambiente familiar”.

3. É certo que a família sofreu ao longo da história da humanidade várias vicissitudes. Detectáveis mesmo sem necessidade de sofisticação no diagnóstico. Hoje todos temos consciência das patologias relacionais, sociais, afectivas, económicas que, em muitos lares, trazem angústia, privação, dor, desalento, dissolução, e até violência.

Mas, a família como expressão natural da pessoa humana tem sabido, com mais ou menos obstáculos, conjugar três aspectos nucleares: evolução, plasticidade e unidade.

Sendo a família o barómetro social que melhor transmite a tensão e a transição dos tempos, o seu ideal e aspiração não mudaram na sua essência.

Em virtude da industrialização acelerada e da urbanização desregrada, a grande família entendida como unidade de integração e de sucessão no plano trigeracional, nuclearizou-se sendo substituída, gradualmente, pela “família conjugal” comportando no máximo duas gerações, e tornando-se até cada vez mais frequentes as situações de solidão de famílias constituídas por uma só pessoa. É neste enquadramento, aliás, que a ideia de EFR ganha maior acuidade.

4. Uma outra realidade iniludível a todos nos atinge, a administração do tempo jamais se fará do mesmo modo das gerações que nos antecederam. Combinam-se e alternam-se, com diferentes hierarquias de valor ou importância, não só tempos de trabalho e de família, como também tempos de lazer e de formação.

A concorrência, tantas vezes “desleal”, de outros meios institucionais ou informais de educação e de formação é, hoje, uma realidade. A família perdeu, definitivamente, o monopólio da formação dos seus membros, que detinha até há poucas décadas.

Na transmissão da informação, na difusão de valores e na expressão de comportamentos, a família reparte agora crescentemente o seu papel com a escola, a imprensa, a quase totalitária e invasiva presença dos meios audiovisuais, a net e outras redes de telecomunicações.

A perda relativa do peso da família na educação dos filhos pela presença de outros meios e agentes, exige um novo equilíbrio entre o tempo para o trabalho e a disponibilidade para a família com ganhos reais no comprometimento e participação dos Pais no desenvolvimento da tarefa educativa. A disponibilidade e a entrega não são apenas noções de carácter físico e temporal, mas sobretudo afectivo e mental. A família continua a ser a primeira e melhor instituição de sociabilização da criança e todos os agentes políticos, empresariais e sociais devem facilitar esta nova partilha de tempos.

5. Mais do que outro qualquer factor, o trabalho constituirá, sempre, o fundamento sobre o qual a vida familiar se constrói e se consolida. A estabilidade das famílias depende directa e fundamentalmente da capacidade de, através do trabalho, serem angariados os recursos indispensáveis à sua sobrevivência e desenvolvimento.

Como disse João Paulo II na Laborem Exercens, "a família é ao mesmo tempo, uma comunidade tornada possível pelo trabalho e a primeira escola interna de trabalho para todos e cada um dos homens”.

A procura e a conquista do trabalho são, em si mesmos, valores activos que conduzem à dignificação da pessoa humana no quadro da família e à expressão da qualidade criadora subjectiva e inalienável de toda a pessoa.

A luta contra o desemprego assume, neste contexto, uma relevância acentuada na defesa da família como célula base de qualquer comunidade.

O desemprego é não só uma doença económica e social, mas também familiar e, apesar do aperfeiçoamento dos sistemas de segurança social no que concerne às prestações substitutivas dos rendimentos de trabalho perdidos, encerra em si mesmo uma estigmática lógica de insucesso individual, de consequências potencialmente negativas quer do ponto de vista psicológico, quer de estabilidade familiar.

Por outras palavras: sem tempo para o trabalho estará seriamente comprometido o tempo para a família.

6. Continuando a falar de trabalho e de família, não se pode deixar de falar do tempo de descanso, que não é um valor marginal em relação ao trabalho. O trabalho e o descanso contribuem, em alternância, para a realização da pessoa. Separá-los é, pois, um erro que se paga mais à frente. Como está escrito, o trabalho é para o homem, não o homem para o trabalho.

O descanso e as férias não são incompatíveis com o código ético do trabalho. Não o contradizem, não o menorizam, nem mesmo beliscam o profissionalismo, o sentimento do dever cumprido, a exemplaridade laboral, o próprio prazer no trabalho.

Se ter trabalho é um factor de esperança, ter tempo é um factor de harmonia.

O descanso e as férias têm que ser exigidas e, ao mesmo tempo, merecidas porque o direito ao repouso nasce da realização conjunta do direito ao trabalho e do dever de trabalhar.

O descanso e as férias, sendo uma oportunidade de recarga pessoal, são também um espaço de reencontro familiar. Por isso, devem ser um tempo pela família (e com a família) e não um factor de desagregação contra a família. Por detrás do trabalho de cada um, está uma família à espera!

7. Os factores demográficos, por sua vez, têm vindo a provocar consequências determinantes que se podem caracterizar, entre outros, pelos seguintes indicadores:

  • Acentuado declínio do crescimento natural desde a década de 70 do século passado. Esta tendência é explicada substancialmente, pela rápida queda da fecundidade. Assim, a taxa de fertilidade (número médio de crianças por mulher) atingiu nos últimos anos o valor de 1,36 crianças/mulher contra 3,1 em 1960. O nível actual é manifestamente inferior ao necessário para assegurar a substituição das gerações que é de 2,1 filhos por mulher. Da Europa dos 25 passámos em 30 anos do 4º país com taxa de fertilidade para 12º lugar.
  • Outro aspecto importante é o retardamento do nascimento do 1º filho, que em 1980 era aos 23,6 anos de idade da mãe e agora é aos 28,1 anos.
  • Em 2007 terão nascido em Portugal cerca de 103.000 bebés. Trata-se do número mais baixo desde 1935, ano a partir do qual há estatísticas oficiais sobre a matéria. Estima-se que o défice de nascimentos ronde os 55.000 por ano. Em 1960 houve 213.895 nado-vivos e em 1980 houve 158.352.
  • O impacto da queda de fecundidade tem sido atenuado, no entanto, pela diminuição da taxa de mortalidade infantil, de 77 por mil em 1960 para 3,5 por mil agora.
  • A esperança média de vida à nascença que em 1930 era de 44,8 anos para o homem e de 49,2 anos para a mulher é agora de 75,2 e 81,8 respectivamente para o homem e para a mulher, o que significa que a EMV aumentou nos últimos 70 anos cerca de 5 meses por cada ano de calendário!
  • O aumento da esperança média de vida implica que teremos um maior número de famílias em que 4 gerações estarão vivas ao mesmo tempo, o que significará, mais frequentemente, pessoas de 60 anos a ocuparem-se dos seus progenitores de 80 e mais anos.
  • Mas, ao mesmo tempo, a dimensão média das famílias portuguesas tem vindo a diminuir drasticamente, de tal modo que hoje 42,8% não têm filhos e só 4,9% têm três ou mais filhos.
  • O declínio da natalidade associado a um aumento da esperança de vida tem vindo a provocar um maior grau de envelhecimento e um aumento da taxa de dependência dos idosos. Em 1990 havia em Portugal 64 pessoas com mais de 65 anos por cada 100 jovens com menos de 15 anos, mas em 2006 (apenas 15 anos depois!) há 112 idosos por cada 100 menores e estima-se que em 2050 se atingirá o valor, de consequências difíceis de imaginar, de cerca de mais de 200 velhos por cada 100 jovens…

8. Perante este complexo cenário, devemos estar conscientes das dificuldades para a família se impor como pedra angular dos programas sociais do futuro. Os obstáculos são muitos e múltiplos.

Numa democracia por vezes de contornos neo-corporativistas, a família – todos o sabemos – não é um lobi, logo está em desvantagem e tem dificuldade no acesso aos centros de poder. Na política de hipertrofia de meios materiais e de obsessão de resultados concretos, a família é quase sempre sacrificada. No Estado muito compartimentado, a família é perspectivada fundamentalmente como sujeito pagador de impostos. Na sociedade de “marketing”, a família torna-se cada vez mais e apenas um centro consumidor. No imperialismo do espectáculo mediático, o sucesso da família não é notícia, mas apenas o seu fracasso. Na sociedade mais individualista, a família tende a fragmentar-se. Na sociedade mais relativista e minimal, a família perde referências estabilizadoras. Na sociedade mais hedonista, a família é vista até como um obstáculo.

No fundo, a família está entre dois pólos, também chamados de reivindicações da modernidade: o individualismo e o Estado. Subjugada ao poder burocrático, ao mercado, ao consumismo.

Não há solidariedade nacional sem solidariedade social. Não há solidariedade social sem solidariedade geracional. Não há solidariedade geracional sem solidariedade familiar. E na empresa por onde passam várias gerações, vários estratos sociais e muitas famílias, deve haver também lugar a esta ideia de solidariedade.

A família preenche uma enorme quantidade de funções sociais e educativas que nenhum Estado e nenhuma administração colectiva podem “nacionalizar”, e nenhum “mercado” se pode apropriar.

9. É, pois, desejável que, nos próximos decénios, se possa assistir ao reajustamento das políticas social e redistributiva quer a nível macro-político, quer a nível local e empresarial, que tenham não só em maior atenção os encargos familiares, como favoreçam a prevenção de disfunções de natureza familiar, contribuindo para a unidade e estabilidade familiares e estimulem a função da empresa amiga da família.

Tudo isto exige que se afirmem em plenitude:

  • O princípio da subsidiariedade pelo qual não se deve deixar a uma organização social superior, maxime o Estado, o que uma sociedade mais elementar (no mínimo a família e a pessoa humana) melhor pode fazer.
  • Os valores do voluntariado, da solicitude, da disponibilidade e da participação bases de toda a atitude criativa e espontânea de solidariedade não intermediada, amiga, desinteressada, mais conforme à natureza do Homem.

O princípio da subsidiariedade, visto no plano familiar, é um princípio de liberdade, de iniciativa, de responsabilidade e de harmoniosa hierarquia e subordinação de valores (o ser antes de o ter, a dimensão espiritual e imaterial antes da dimensão física e instintiva, a convivência antes do isolamento, a família antes da cidade e do Estado. Não se limita, pois, a ser um simples princípio de repartição de competências.

Como tal, a família deve ser perspectivada e respeitada como a mais genuína micro instância de segurança social, de escola, de local de trabalho, de centro de saúde, de julgado de paz, de associação voluntária de socorros mútuos.

10. O Estado e as organizações da sociedade nas quais se incluem as empresas devem estimular e apoiar (e não sufocar) o exercício da “magistratura social” das famílias. No plano social é primordial que a suplência das sociedades superiores se afirme com eficácia e austeridade institucional. Nem um posicionamento minimal, nem um posicionamento plenipotenciário, castrador da família.

Neste contexto e no preciso respeito pelo princípio da subsidiariedade, as políticas públicas e a acção responsável das empresas devem criar condições que:

  • Protejam e não discriminem a maternidade e paternidade como valores humanos e sociais inalienáveis, não apenas biológicos mas sobretudo educativos e relacionais;
  • Reconheçam a insubstituível função dos pais na educação dos filhos;
  • Ajudem a consolidar a função da Família, enquanto transmissora de valores e veículo de estreitamento das relações entre gerações;
  • Favoreçam, no âmbito das políticas laboral e social, condições para a igualdade do homem e da mulher na partilha das responsabilidades familiares;
  • Estimulem ou ajudem o voluntariado e as redes primárias de solidariedade como estruturas importantes de apoio à Família;
  • Aceitem e fortaleçam o associativismo familiar e a voz das famílias na vida social económica e cultural, deixando de constituir os parceiros silenciosos das políticas sociais.
  • Contribuam para dissipar o eclipse dos mais velhos e dos avós na partilha solidária de tempos e de responsabilidades.
  • Evitem o efeito guilhotina da passagem abrupta e, às vezes, extemporânea da actividade para a fase de reforma

11. Falando de empresas, importa aqui relevar o papel crescentemente indispensável da sua responsabilidade no plano ético, familiar e social.

Na pós-revolução Industrial e até há relativamente pouco tempo, a empresa era vista, fundamentalmente, como uma realidade ou um sistema de natureza material e física ou corpórea, um referencial de técnicas produtivas e operativas.

A grande alteração - quase me apetece dizer, a grande “descoberta” – que entretanto se evidenciou, relaciona-se com a crescente tendência para ver a empresa, também e sobretudo, como uma comunidade de pessoas. Afinal, tarde mas a horas, “descobre-se” que são as pessoas (e não os inadequada e instrumentalmente designados “recursos humanos”) que constituem o principal suporte e património de qualquer organização; são as pessoas que garantem o sucesso ou explicam o fracasso das empresas e das suas estratégias. Logo, tudo o que seja centrar nas pessoas a estratégia das empresas é, hoje em dia, a chave do futuro e é, por aqui, que melhor vislumbramos as crescentes responsabilidades sociais da empresa.

Afirmando a centralidade das pessoas, a empresa corporiza-se como uma entidade ética e um activo social. Desde logo, sendo ou devendo ser, em primeiro lugar, o maior denominador comum dos diferentes e legítimos interesses dos accionistas, dos trabalhadores, dos clientes, do Estado, da sociedade em geral. Mas devendo ser, também, uma referência de valor na e para a sociedade, um centro de responsabilidade social. Responsabilidade social para fora e responsabilidade social para dentro, protegendo determinado tipo de riscos, sociais, familiares, individuais, para todos quantos dão a sua contribuição para o produto final de uma empresa. Por outro lado, a empresa tem de ser um espaço de realização nas suas três componentes: pessoal, cívica e profissional.

12. Por sua vez, o conceito de trabalho vem mudando radicalmente. A geografia dos empregos alterou-se a uma velocidade geométrica e assume hoje contornos mais voláteis. Novas funções emergem nas empresas e empregos relacionados com novas exigências civilizacionais, como a segurança, o bem-estar, os tempos livres, a cultura, o apoio social e tantas outras que surgem por todo o lado, ao mesmo tempo que outras actividades desaparecem ou se tornam obsoletas.

É também notória a transformação da sociedade salarial oriunda de uma visão estritamente obreirista em direcção a uma sociedade activa menos normativa e menos rígida onde emergem novas formas de produção e transformação da organização. Do teletrabalho ao trabalho no domicílio, da exploração das formas "electrónicas" de prestação de trabalho a formas ocupacionais de serviços sociais, do desenvolvimento consistente do trabalho a tempo parcial à conciliação entre o "part-time" e a reforma parcial, deparam-se-nos novos cenários no mundo das empresas e do trabalho cujas consequências ainda não são, de todo, visíveis mas que, por certo, conduzirão a uma noção mais incorpórea e menos física de empresa afirmando-se, sobretudo, como comunidade de pessoas e de valores. E vivem-se – goste-se ou não – os desafios da adaptabilidade, mobilidade, maior elasticidade formação / trabalho e torna-se cada vez mais imperativa, em nome do progresso, a ética do mérito, do esforço e da equidade,

Tudo isto impõe uma alteração na ética de “stakeholders” (entre os quais destacaria no âmbito deste tema as família dos trabalhadores) e no conceito de “accountability” e capacidade social da empresa. Já não chega a adopção das responsabilidades exigidas pela sociedade (as económicas e legais). É preciso aprofundar as responsabilidades humanas, sociais e éticas ainda não exigidas normativa ou estatutariamente mas cada vez mais esperadas ou desejadas pela sociedade e diferenciadoras no mercado.

13. Ainda a este nível, permitam-me reforçar as virtuosas exigências do desenvolvimento de funções sociais nas empresas, para além da prestação do trabalho. Em primeiro lugar, as que têm que ver com a imperativa necessidade de melhor conciliar as responsabilidades profissionais, com as exigências familiares e educativas dos filhos. Isto, ainda é, sobretudo para as mulheres, um factor restritivo do pleno desenvolvimento nos mercados de trabalho. Todas as políticas públicas ou empresariais que reforcem a necessidade de melhor coabitação entre família, trabalho, educação dos filhos e lazer são absolutamente necessárias num mundo que se quer constituído com qualidade e com gerações actuais e vindouras equilibradas e com sentido de futuro.

É tempo de se reconhecerem e fortalecerem as práticas de apoio familiar, seja a nível de mecanismos de flexibilidade não perspectivados unilateralmente, de apoios e de equipamentos sociais (por exemplo, creches e infantários) junto dos locais de trabalho dos pais ou das mães. É tempo de se afirmar a sua concretização como humanamente substantivas e não, de uma maneira demasiado produtivista, como meramente instrumentais ou acessórias.

14. Voltando à família: não há desenvolvimento verdadeiramente humano e qualidade de vida humanizada sem qualidade de família. Nem é possível e desejável construir e desenvolver uma “sociedade de bem-estar” radicada num certo “mal-estar das famílias”.

Por isso a aliança família – empresa é uma atitude positiva e desenvolvimentista. O progresso da humanidade passará sempre pela família e pela empresa. Todas as outras soluções que as minimizem sempre estiveram condenadas ao fracasso ou ao efémero.

Na família – essa unidade feita da diversidade que não pode ser reduzida a uma mera expressão associativa de coabitação, a uma comunidade de interesses circunstanciais – não há concorrência. Cada pessoa vale pelo que é e não pelo que tem. Na família todos dependemos de todos. Não somos invulneráveis, nem perfeitos, mas imperfeitos e dependentes. Na família ninguém é mais pessoa, mas todos podem ser melhores pessoas.

15. Como há pouco referi, é preciso que a família não se deixe iludir pelos seus adversários que umas vezes estão mais à luz do dia, outras vezes mais larvares ou encobertos mas nem por isso menos dissolventes e que são, no meu entender, e entre outros, os seguintes:

No plano ético: o relativismo e o minimalismo

No plano comportamental: a indiferença e o conformismo

No plano espiritual: o positivismo hedonista e a cultura da satisfação

No plano geracional: o egoísmo e a desconsideração

No plano social: o individualismo e a predação sem regras

No plano económico: o utilitarismo e o endeusamento (do mercado ou do Estado)

No plano político: a miopia do longo prazo e o “culto mediático”

16. Já vou longo e certamente fastidioso. Termino, pois, lembrando metaforicamente uma frase que um dia li: “o Titanic afundou-se, embora feito por profissionais. A Arca de Noé salvou-se porque foi feita por amadores”. Eis uma boa imagem do que julgo ser o futuro da família e todo o seu património de conjugalidade afectiva, coesão geracional, educação do carácter e de valores, partilha sem limites. E do que creio ser a necessária complementaridade entre a família de amadores, que amam e de profissionais que produzem!

Em matéria familiar tenho todo o respeito pelas normas, mas acredito mais nos valores.

Valorizo os recursos, mas elejo o exemplo. Escuto as opiniões mas não as confundo com princípios. Admiro o êxito individual, mas sou mais sensível à riqueza familiar.

Por outro lado, as decisões do quotidiano das empresas não são fáceis, estando quase sempre sujeitas a condicionalismos e a restrições que implicam soluções de segunda ordem (second bests), não soluções certamente ideais mas as que melhor realizam o compromisso entre equidade, rendibilidade, eficiência e harmonia interna. Tudo isto só pode ser feito com valores e códigos de conduta que dêem alma, substância, espírito de corpo e cultura às organizações. E neste âmbito a empresa familiarmente responsável é a empresa do futuro e de esperança. E a família é e será indelevelmente um tema de futuro, de progresso e de esperança.

Enfim, como escreveu Yves Bonnet: “Família, Escola, Empresa: afinal e sempre o mesmo combate!

António Bagão Félix

Maio de 2008



(reprodução do texto publicado no Infovitae)