quarta-feira, 11 de junho de 2008

Como se distingue um católico em política?

por Giorgio Vittadini* (publicado em il Giornale 06.06.2008)

Prossegue, praticamente sem solução de continuidade, a discussão sobre o papel dos católicos na vida política. Depois das avaliações sobre o seu peso no novo governo, destacados representantes da oposição alertaram muitas vezes para o perigo de que a Igreja se apresente como organização de alguma forma ao serviço do poder. Como frequentemente sucede, o problema é outro, não esquematizável nesta tosca e retrógrada contraposição. A quem está preocupado com a presença – escassa ou excessiva, consoante se encare da direita ou da esquerda – dos católicos no poder recorde-se o que respondeu Luigi Guissani numa entrevista de 1996 a Pierluigi Battista no La Stampa. À pergunta: «O senhor sente-se mais seguro com um cristão no governo?», o sacerdote milanês respondeu: «Não. O problema é a dedicação sincera ao bem comum e uma competência real e adequada. Pode haver um cristão imerso nos problemas eclesiásticos cuja honestidade natural e competência podem deixar dúvidas».

Muitos exemplos nestes sessenta anos de história republicana demonstram-no. A partir dos anos Cinquenta, muitos católicos, paradoxalmente aliados dos que hoje têm medo das intervenções da Igreja, converteram-se nos mais acérrimos defensores, mesmo no período mais recente, dum estatalismo “bom”, na origem de grande parte dos males actuais do nosso país. Mas então, para evitar o risco de um poder como finalidade de si mesmo, será preciso refugiar-se num espiritualismo desencarnado? De preferência, como disse o pontífice na assembleia-geral da CEI, face ao desafio do relativismo e do nihilismo que a todos afecta, são precisos «educadores que saibam ser testemunhas credíveis dos valores e realidades sobre as quais é possível construir quer a existência pessoal quer projectos de vida comuns e compartilhados».

O cristianismo tem uma incidência histórica real quando é vivido não como uma ideologia teórica, mas como uma experiência pessoal em que se olha e se segue a Presença misteriosa e amiga que habita a realidade. Quem vive assim torna-se útil a toda a companhia humana – como o prova a história do nosso país – porque toma consciência do desejo de bem que alberga no seu coração, torna-se capaz de captar as verdadeiras necessidades de qualquer homem, começa a construir obras que são formas de vida nova, sabe exigir à política que salvaguarde a afirmação daqueles valores que tornam mais humana a convivência de todos. E, se faz política, renova-a, com paciência, a partir de dentro, seja qual for a situação de poder em que se encontre ou seja qual for a sua função.



* Presidente da Fundação para a Subsidiariedade.