quinta-feira, 24 de abril de 2008

Homenagem a Mons. Eduardo Melo Peixoto (@RCM)

Partiu no passado sábado do nosso convívio Mons. Eduardo Melo Peixoto, conhecido de todos como Cónego Melo, em virtude dos muitos anos de serviço à Sé de Braga, à Igreja, a tantos quantos o procuravam e... a Portugal. Quem conheceu este homem de diálogo – que certa preguiça mental entendeu classificar de “polémico” - percebeu, bem ao contrário, que se tratava de um pensador claro e um cidadão corajoso – um rochedo no mar da hesitação calculista. Uma referência, portanto, para a acção verdadeiramente libertadora – logo incómoda para certos projectos totalitários – logo... polémica.

ao Amigo

Eu próprio, sou testemunha da sua amizade nestes brevíssimos 3 anos transcorridos desde que em 2005 lhe pedi a assinatura para a candidatura independente à Presidência da República – e ma deu depois de lhe demonstrar a vontade de contribuir para a regeneração da política portuguesa a partir da sociedade civil e em nome de Valores.

Três anos em que pude conhecer a inteligência, a sentido de humor, o arreigado sentido de solidariedade humana e toda uma forma de ser ao mesmo tempo “do alto” e “da terra” que ficou sendo para mim e para muitos, figura típica e exemplar de “bracarense”. Braga fica um pouco mais triste, Portugal um pouco mais desamparado.



ao Homem

Fiquei impressionado com a quantidade de testemunhos na primeira pessoa que ouvi na primeira pessoa desde o passado sábado. Se é de louvar num homem a solidariedade e disponibilidade para o outro, torna-se verdadeiramente desconcertante e, diria, sublimemente cristão que isto aconteça sem que a minima publicidade seja dada a tantos gestos – deles adquirindo vago conhecimento mesmo os amigos próximos... muitos anos depois.

Quando vemos os nossos sindicatos da Função Pública reclamar contra o aumento da idade de aposentação... e a depressão de tantos no momento em que a atingem, aí fica o exemplo dos oitenta anos do Sr. Cónego Melo, trabalhando a plena carga, caído em serviço e, porventura, pelo serviço.


ao Padre

A homenagem de um leigo. Quando a Igreja dava os primeiros passos na busca do caminho pós-concílio Vaticano II, já Monsenhor Melo abraçara com entusiasmo o Movimento dos Cursos de Cristandade e lhe insuflava espírito vital e... mentalidade cristã. Mais de 50 anos de serviço...

«Felizes sereis quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo,

disserem todo o género de calúnias contra vós, porque grande

será a vossa recompensa no céu; ”(Cfr. MT. 5.1-1)


ao Português

Muita gente considera que o princípio do fim da Ditadura Comunista em Portugal terá sido, mais do que quaisquer outros, obra deste homem singular, amado e admirado pelo seu povo de Braga e por tantos portugueses de boa-Vontade, cuja capital importância histórica os seus inimigos, à sua maneira, reconhecem.



Quem assistiu à notícia do seu falecimento na RTP2 (noticiário da noite de sábado, 19 de Abril) notou a profusão de advérbios e PREC-iana adjectivação. A Rádio Televisão dita Portuguesa, quase deu a ideia de ter algum contrato de Outsourcing com o Avante para os noticiários da 2 ao fim de semana (redução de custos?).

A não ser assim, como justificar alguns dos termos utilizados? Começa por classificar de "anti-comunismo primário" e de “extrema-Direita” o grito de Ipiranga dado em Braga contra a instauração iminente de uma Ditadura Comunista em Portugal. Que se saiba, também Sá Carneiro e Mário Soares lutaram contra este projecto e corajosamente o denunciaram ao país. Porque não carregam então também eles os epítetos de “extrema-direita” ou de “primário”? A Mário Soares, ainda o PCP teve de engolir como sapo a dado passo, tapando a cara no boletim de voto. Ao Norte, que então o Cónego Melo congregou e de facto liderou, é que nunca será perdoada, afinal, a sua decisiva eficácia (tal como hoje acontece a Pinto da Costa). Em Lisboa, lá longe, Mário Soares* na Fonte Luminosa avisava que o PS podia paralisar o país... Em Braga, o Cónego Melo proclamava simplesmente que “não temos medo e somos mais” - mais ou menos o mesmo tom, portanto. O resto é sabido da sociologia e da dinâmica das multidões: o povo atende mais aos que lhe estão próximos e aos que verbalizam aquilo que ele mais profundamente sente!

De resto... é teoria do caos: “Uma borboleta bate as asas em Pequim e vem a acontecer um furacão em Nova Iorque”. Para os fanatizados de Nova Iorque (que se fartaram de emitir gases de efeito de estufa para o Katrina) o mais fácil é... responsabilizar a borboleta de Pequim... lá longe, apoiada nos “camponeses ignorantes do norte”!

E a RTP2 levou o delírio ao ponto de atribuir a uma "maquinação da Igreja" (da igreja de Braga?) o enxovalho do Sr. Arcebispo D. Francisco Maria da Silva pelo COPCON no aeroporto de Lisboa - como se os militares do COPCON obedecessem secretamente... ao Cónego Melo. Mas o jornal2 não tem direcção de redacção? Se tem, mesmo que não se revelem as fontes, bom seria que esta assumisse a responsabilidade de tão ousada tese e apresentasse documentos fidedignos para a sustentar diante da História.

Parece-nos que é finalmente chegado o momento de, mais do que erigir estátuas a pessoas, se construir um monumento à Verdade sobre este período recente e tão decisivo da historia portuguesa. Deixo por isso aqui um desafio: o de que me seja enviada toda a documentação relevante relativa a Braga, ao norte, ao país, sobre aquele período histórico entre 1974 e 1980 – panfletos, fotografias, comunicados, discursos, gravações (audio ou vídeo - original ou cópia). Podem contactar comigo através do email indicado no blogue cidadaniapt.blogspot.com ou enviar a documentação directamente para a Radio Clube do Minho ao meu cuidado - Rua Cónego Rafael Costa, 122 - Apartado 6, 4715-288 Braga. O nosso compromisso é o de compilar, organizar e estudar essa documentação, naturalmente com apoio de outros académicos interessados, para depois, justificando-se, publicarmos um estudo documentado que lance luz e documentada verdade – seja ela qual for – sobre um período que é do nosso superior interesse cívico conhecer “em Espírito e Verdade”.

Enfim, o grande pecado deste grande português – para os que gostariam talvez de lhe poder sujar o nome (porque não basta querer) – foi o de, sendo padre, se ter envolvido decididamente na política e tê-lo feito na praça, ao lado do povo... da cidadania anónima e sem outro partido que não seja o da Liberdade. Em 1975, vitorioso, contra a Ditadura comunista. Em 1998, vitorioso, contra a Ditadura abortista. Em 2007, provisoriamente vencido no referendo do aborto, mas logo entusiasmado em 2008 a animar o Portugal pro Vida, entretanto surgido, e em fase de recolha de assinaturas.

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* por lapso, em edição anterior atribuímos a Mário Soares o apelo à "Maioria Silenciosa" que, na verdade, pertenceu a Spínola em Setembro de 1974.