- por José António Saraiva, (texto integral aqui)
As mulheres passaram a rebelar-se contra os maridos, recusando-se a executar certas tarefas que no passado faziam naturalmente.
– Fazer a comida? Porquê eu? Faz tu!
– Mudar a fralda ao bebé? Por que razão hei-de ser sempre eu? Muda hoje tu!
– Fazer a cama? Mas tu não te deitas também nela? Desta vez faz tu!
– Aspirar a casa? Mas não a sujas tanto como eu ou até mais? E além disso tens mais força! Aspira tu!
[...] Entretanto, se muitas das reivindicações feministas tinham razão de ser, o feminismo padeceu de um enorme equívoco que esteve na origem de inúmeros conflitos. O equívoco foi este: considerar que os homens e as mulheres são iguais – tendo as mesmas qualidades e os mesmos defeitos, as mesmas capacidades e as mesmas limitações, devendo por isso desempenhar em casa exactamente as mesmas tarefas.
Aqui é que começou o problema. Porque os homens e as mulheres são estruturalmente diferentes. Têm sensibilidades diferentes, gostos diferentes, vocações diferentes, aptidões diferentes. Para um casal se dar bem, precisa de perceber isso. De perceber que, sendo os dois diferentes, não devem procurar fazer o mesmo – mas, exactamente ao contrário, têm de repartir as tarefas.
Tal como numa empresa o segredo é dividir as funções e distribuí-las de acordo com as competências de cada um, no casal a regra é a mesma.
Uma BOA repartição de funções é um dos segredos para o bom funcionamento do casal. Porque se criam rotinas. E isso reduz o esforço e evita muitas discussões. [...]
Outra questão importante é a da liderança. Numa empresa bem organizada a hierarquia deve estar bem definida. [...] O importante é que cada um dos membros do casal tenha a sua área de influência, uma área na qual sinta que tem a última palavra, em que possa projectar o seu poder.
É evidente que, nas grandes decisões, deve haver consenso entre os membros do casal. Mas é utópico pensar que pode haver sempre consenso em tudo. Acreditar nisso é outra fonte potencial de conflitos.
[...] A maior parte das pessoas defende que os casais devem discutir tudo, escalpelizar as dúvidas e as questões mais delicadas até ao fim. Ora ele (Gabriel García Márquez) defendia exactamente o contrário: os casais não devem prolongar as discussões nem esmiuçar os pontos de atrito. Em certos assuntos delicados o melhor é pôr um ponto final na conversa. Não pretender aprofundar. Prolongar o diálogo só vai agravar as coisas, prejudicar a relação. Em vez de aproximar o casal, acentua a divisão.
Para um casal funcionar bem [...] aqui fica uma série de conselhos úteis:
– Repartir as tarefas domésticas de acordo com as inclinações de cada um. Não pretender que sejam os dois a fazer tudo: a indefinição é uma fonte constante de irritação e atritos;
– Criar rotinas dentro de casa;
– Definir com justiça as áreas de liderança, para que cada um dos membros do casal sinta que tem o seu espaço de poder;
– Não esmiuçar assuntos potencialmente conflituais, deixando o tempo curá-los.
[...] Finalmente, é preciso ter presente que nada na vida tem só vantagens. A moeda tem duas faces. O casamento não foge à regra: tem vantagens e desvantagens. Se valorizarmos estas em demasia, rapidamente concluímos que não vale a pena. Para manter o casamento é preciso abdicar do acessório para salvar o essencial. Na convicção de que fora da família não é muito fácil encontrar a felicidade.