por Margarida Castel-Branco, in Correio de Coimbra
Quando a minha filha Isabel era pequenita, gostávamos de ir às livrarias e passar longos minutos a folhear livros infantis. Algumas livrarias têm espaços preparados para crianças, onde temos a possibilidade de perscrutar um mundo fantástico de cores, sons e cheiros que nos transportam para outra realidade. Aí, pais e filhos são convidados a mergulhar na inocência de uma infância feliz.
Quando a minha filha Isabel era pequenita, gostávamos de ir às livrarias e passar longos minutos a folhear livros infantis. Algumas livrarias têm espaços preparados para crianças, onde temos a possibilidade de perscrutar um mundo fantástico de cores, sons e cheiros que nos transportam para outra realidade. Aí, pais e filhos são convidados a mergulhar na inocência de uma infância feliz.
Foi numa manhã de sábado chuvosa que me deparei com livros sobre sexualidade dirigidos a crianças de tenra idade. Curiosa, folheei alguns. Inquieta, detive-me nalgumas partes. A certa altura, um autor dizia qualquer coisa como isto: “Todos os dias a tua mãe toma um comprimidinho para não ter mais bebés. Um dia, quando a tua mamã e o teu papá resolverem dar-te um irmão, ela parará de tomar esse comprimido…”.
No meu imaginário de criança, os comprimidos tomavam-se para tratar doenças. Aliás, a minha decisão de ser farmacêutica passou exactamente por aí: por conhecer bem o corpo humano para, através dos medicamentos, poder ajudá-lo a recuperar a saúde, sem, contudo, ter de me envolver directamente na relação médico-doente, para a qual não sentia particular vocação. “Medicamento versus doença” era o mote. Mas, neste caso, a situação estava invertida: a mãe da criança do livro, saudável, tomava todos os dias um comprimidinho para… não ter bebés; donde, uma criança inteligente facilmente conclui que ter bebés é… uma doença!
Regressando ao presente, verifico que, afinal, é exactamente esta a mensagem que atravessa toda a sociedade. Mais ou menos explícita, é ideia amplamente difundida a defesa da dissociação entre sexo e procriação. Como se fossem actos independentes. Endeusa-se o primeiro, recorrendo-se ao segundo apenas quando é necessário. Uma, eventualmente duas vezes na vida. E se, por acaso, de um acto sexual resulta um bebé… “que estranho, não era suposto; há que eliminar este produto da concepção!”
Cedo percebeu Karol Wojtyla a necessidade de apontar um caminho novo ao mundo, no âmbito da moral sexual. Foi com os jovens da sua paróquia de São Floriano, em Cracóvia, que, no início dos anos 50, começou, nas suas palavras, a “aprender a amar o amor humano”. Durante 25 anos, escutou, aconselhou e acompanhou os seus jovens jovens, que eram e se foram fazendo namorados, intelectuais, cientistas, noivos, filósofos e teólogos. E muitos casaram. Daí surgiram novas reflexões sobre o amor humano. Das suas questões e dificuldades, das muitas horas de confessionário e das conversas fora dele, nasceu um estudo célebre: “Amor e Responsabilidade”(1). A doutrina moral da Igreja era apresentada, pela primeira vez, não em termos do que é permitido ou proibido, mas a partir de uma reflexão sobre a pessoa. No contexto dos anos 60, ele sabia que era urgente apresentar as regras da moral católica como um itinerário que conduz homens e mulheres a uma maior realização de si próprios. Mais tarde, João Paulo II aproveitaria as audiências gerais de 4.ª-feira para, semana após semana, durante mais de quatro anos (de 5.9.1979 a 28.11.1984), explorar “Amor e Responsabilidade” de uma forma muito mais alargada, incluindo o ponto de vista teológico. Procurava, deste modo, responder aos problemas pastorais nascidos da publicação da Humanae Vitae, fornecendo os esclarecimentos necessários para se poder compreender até que ponto são bem fundadas as normas éticas aí enunciadas. Nascia assim a “Teologia do Corpo”, dedicada ao amor humano no plano divino(2).
Tenho-me questionado por que razão me suscita repulsa a ideia da obrigatoriedade da educação sexual nas escolas. Teoricamente, ela seria parte de uma educação para a saúde, e, como tal, benéfica do ponto de vista da preparação das novas gerações. Mas basta olhar para os manuais propostos ou para as manchetes de jornais dos últimos dias para perceber que não se trata de verdadeira educação sexual, mas antes de uns ensinamentos sobre como fazer sexo sem fazer bebés e sem ficar doente. Falta falar de Amor. Parece que os mentores dos projectos se esquecem de que, no ser humano, os aspectos biológicos e psicológicos se complementam para dar à sexualidade um duplo significado: não só o da transmissão da vida a novos seres, como também o da expressão do amor que se estabelece entre homem e mulher. O complexo funcionamento dos órgãos sexuais masculinos e femininos sugere essa dupla finalidade, na medida em que é da própria organização do sistema sexual humano no seu conjunto que resulta a possibilidade de ocorrer ou não uma gravidez num determinado momento da vida do casal.
Diz-se, no nº 12 da Humanae Vitae, que, “pela sua estrutura íntima, o acto conjugal, ao mesmo tempo que une profundamente os esposos, torna-os aptos para a geração de novas vidas, segundo leis inscritas no próprio ser do homem e da mulher”. São estas leis da natureza que precisamos de ensinar. E de aprender. A regulação natural da fecundidade é um meio concreto para se viver a sexualidade conjugal de um modo mais pleno. Por isso, o CADC propõe-se realizar um Curso de Métodos Naturais de Planeamento Familiar já nos próximos dias 30 de Maio e 20 de Junho. E promete, para breve, o aprofundamento, em Coimbra, da Teologia do Corpo de João Paulo II.
A não perder.
(1) Karol Wojtyla. “Amor e Responsabilidade”. Lisboa: Editora Rei dos Livros, 1999.
(2) Yves Semen. “A Sexualidade segundo João Paulo II”. Estoril: Principia Editora, 2006.