Além da "frente" espiritual, da "frente" política e da "frente" laboral, existe uma outra "frente" de combate pela "civilização da Vida" que tendemos a esquecer mas que é de capital importância: falamos da "frente" cultural.
A cultura condiciona-nos a todos de forma extremamente subtil mas poderosa. Quantas ideias e imagens interiorizadas desde o berço nos levam a agir e optar por aquela que nos parece "a única opção possível", achando que "as coisas são assim mesmo"? Quantas ideias vamos mantendo aguerridamente aquarteladas em regiões do cérebro aonde, supostamente, a razão não entra? Porque não nos passa pela cabeça abrir à Razão as portas da obscura região do preconceito?
Porque discernimos o bem mas acabamos por seguir o mal? Video meliora proboque, deteriora sequor.
Por causa de uma cultura de estigmatização da "mãe solteira" ou do "pai solteiro", da mancha no "bom-nome da família", da "imagem pessoal" há milhares de bebés portugueses que poderiam nascer (porque os progenitores têm condições para isso) e são abortados. Então é preciso tomar consciência de que esta nossa cultura tem hoje uma lado assassino e é preciso mudá-la. E neste domínio já não estamos num combate de ideias entre os paladinos do movimento pro Vida e os activistas pro-aborto. Esta já é uma luta interior em que se defrontam o nosso idealismo contra o nosso próprio egoísmo; alguns elementos da nossa tradição cultural e a análise crítica da razão, do Logos. Este é talvez o mais duro combate... contra o bárbaro "pró-aborto" que ainda subsiste em cada um de nós que proclamamos o Valor Absoluto da Vida Humana. Talvez um primeiro passo para a sua erradicação possa ser a simples consciencialização da existência dessa 5ª coluna.
Certa estudante universitária, tendo engravidado, perante o abandono do "companheiro" e a necessidade de arranjar emprego imediato, decidiu interromper o seu curso. Teve o filho e o emprego permitiu-lhe enfrentar as dificuldades. O sentido de responsabilidade aguçado na luta da Vida (literalmente) e demonstrado também nas tarefas profissionais, levou-a a conquistar a confiança da administração e a uma rápida ascensão na empresa. Alguns dos antigos colegas, tendo concluído o curso no tempo normal, vieram a ingressar mais tarde na mesma empresa, ficando sob sua chefia. Outros, ainda, candidataram-se e não foram admitidos - os quadros haviam enchido. Certo dia, a nossa estudante resolveu concluir as poucas cadeiras que lhe faltavam e formou-se também ela, mantendo a posição de liderança que de outro modo poderia não ter atingido.
Quem pode, pois, afirmar que "ter um bebé nesta altura", em qualquer altura, é o colapso de todos os planos de vida? Sem entrar sequer em considerações de que o novo filho pode, a prazo, tornar-se no seu único e fiel amigo, nunca se pode dizer à partida se a nova situação criada por uma gravidez "nao-planeada" não será, afinal, a miraculosa saída para o buraco existencial em que se pode estar preso sem saber!