11. 02. 2008
1. Tudo o que se possa dizer passado um ano do referendo que agravou em muito a já existente liberalização do homicídio na forma de aborto será sempre nada para descrever a banalização do terror e simultaneamente a formosura do dom verdadeiro de si mesmos que move tantos corações a uma fecunda entrega gratuita. Mas o que não se pode dizer também não se pode calar.
2. a) Talvez seja bom começar por recordar que, nos idos de 1997/8, um abortófilo assumido, reputado sociólogo, cronista semanal na imprensa e comentador habitual na televisão afirmava com todas as letras não acreditar que os pró-vida reconhecessem o embrião e o feto como verdadeiros seres humanos. Isso para ele constituía uma evidência que resultava do comportamento verbal e da acção dos que se opunham ao aborto provocado. A razão era simples, se fora verdade que nós reconhecíamos o concebido ainda não nascido como um de nós, dotado da mesma dignidade e, portanto, do mesmo valor, seria óbvio que a nossa mobilização e o nosso combate nunca teriam sido tão tíbios como foram. Daqui poderemos concluir que para os abortistas e demais pessoas confusas acreditarem na verdade da nossa luta precisam que o nosso testemunho, por palavras e obras, corresponda à gravidade daquilo que está em jogo. De facto, dificilmente poderão despertar para a verdade que propomos se topam discrepância entre o que proclamamos e o que testemunhamos. Exemplo disto, ainda nos dias de hoje, é o inexplicável silêncio da Conferência Episcopal neste dia aniversário de pois do Estado ter condenado a uma morte violenta seis mil inocentes por exigência cruel de suas mães; ou a mesma conceder um prémio cultural a um sacerdote que promoveu a reprodução artificial, com o seu cortejo infindável de mortos, em Portugal; ou a Rádio Renascença manter colaboradores, como por exemplo, Edite Estrela, que publicamente advogam o aborto; ou a Universidade Católica Portuguesa ter como professor um director de um periódico que ganha dinheiro com a publicidade feita ao matadouro dos Arcos; ou os rios de dinheiro que se gastaram, e muito bem, com a construção da Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima, e a menos que migalha insignificante que a Igreja dispensou na formação das consciências, o que é um gravíssimo pecado de omissão (queira Deus que os nossos Bispos não sucumbam à tentação de pensar que é mais importante para a Igreja gastar um extravagância com uma megalómana sede para a Conferência Episcopal do que contribuir para a defesa da vida); ou a autocensura a que muitos se impõem ao abordar estes temas – os exemplos poderiam multiplicar-se facilmente.
b) Uma vez que o espaço de um artigo deve ser breve para não enfastiar proponho-me somente lembrar a necessidade de um uso cuidadoso da linguagem que nos ajude, a nós e a todos os outros, ter bem presente a verdade do que tratamos. Por exemplo:
- Nunca dizer, IVG ou somente aborto, mas sim homicídio na forma de aborto, ou aniquilação propositada do filho ou filha;
- Nunca dizer, os do Sim, mas os abortófilos ou abortistas;
- Nunca dizer, a mulher, mas a mãe grávida;
- Nunca dizer, vou ser mãe, quando se está grávida, mas dizer sou mãe ou, consoante aquele que fala, sou pai, sou avô sou avó, etc;
- Nunca dizer, o embrião ou o feto, mas sim a pessoa, ou o ser humano, na sua etapa, ou fase, embrionária, fetal, etc.
- Nunca dizer a lei, quando se refere à violência (assim lhe chama João Paulo II, no seguimento de St.o Agostinho, que admite o aborto, mas sim a “lei” intrinsecamente injusta, ou iníqua;
- Nunca chamar democracia ao regime em que vivemos, pois isso somente seria possível caso tivéssemos uma visão relativista da vida e da política, mas sim, como ensina João Paulo II, tirania ou substancial totalitarismo;
- Nunca chamar clínicas ou hospitais ou centros de saúde aos locais onde se realizam abortamentos, mas sim matadouros ou abortadouros;
- Nunca chamar médicos aos que se dizem profissionais de saúde e que realizam abortamentos, mas sim carrascos, carniceiros, vampiros, etc.
- Nunca chamar medicamentos, aos fármacos que induzem o aborto, mas sim preparos venenosos ou peçonhentos, pílulas homicidas, etc.
- Nunca dizer procriação medicamente assistida, mas sim terrorismo de laboratórios (a expressão é de Ortega y Gasset);
- Nunca dizer experimentação ou investigação em embriões, mas dizer sempre matança nazi (ou brutal) de seres humanos inocentes, vulneráveis e indefesos;
- Nunca dizer clonagem terapêutica, mas dizer sempre produção propositada de seres humanos para os matar.
- Nunca dizer APF, mas sim Aniquilação Propositada dos Filhos/as ou Aulas
A lista podia continuar. Talvez fosse oportuno reunir um grupo de trabalho para elaborar um vocabulário. Fica a sugestão.
3. O boletim electrónico Infovitae, que está a dar os primeiros passos na comunicação por imagens, prestou um serviço importante ao colocar na Internet o conteúdo integral do balanço de um ano de maior liberalização do aborto feito por diversos movimentos pró-vida. Fica-se, por este modo, a saber o que a grande maioria dos órgãos de comunicação social censuraram. Do que se pode ver e ouvir fica uma grande alegria por tantas coisas boas que se vão fazendo e pelo entusiasmo patente na determinação dos que generosamente se têm vindo a entregar, por Cristo, a esta causa tão nobre.
Há, não obstante, alguns reparos a fazer. Aqui ficam somente dois, não porque únicos, mas por brevidade e porque as instâncias onde tratar os outros não são as deste texto.
a) Creio que o facto de neste referendo o Não ter tido mais duzentos mil votos não é de atribuir a uma campanha melhor mas tão só ao facto de a abstenção ter sido menor do que em 1998. Nesse ano, praticamente a maioria da Igreja no norte de Portugal, convencida de que iríamos perder o referendo, mobilizou com sucesso os fiéis para a abstenção. O que desta vez não aconteceu. Assim, é provável que os duzentos mil votos a mais não signifiquem um avanço nosso, mas possivelmente um retrocesso, pois não fora tal abstenção em 98 e teríamos certamente mais que esses duzentos mil, nessa altura. É preciso não esquecer que a actividade constante e sistemática dos abortófilos no período que mediou os dois referendos e a passividade escandalosa da Igreja teve um impacto negativo brutal na mentalidade dos portugueses. Acresce que a mensagem que passou para o povo quer da parte da Igreja quer da parte de uma parte significativa dos demais movimentos pró-vida foi muito ambígua dando sinais contraditórios cujo efeito muito nefasto foi bastante visível, e verificado na votação referendária.
b) Por outro lado as duas realidades mais importantes que enquanto a mim surgiram no pós-referendo foram, aparentemente, esquecidas. Em primeiro lugar, há que referir o movimento de oração intitulado Os Cercos de Jericó – parece que aqui se cumpre, pelo menos em parte, o que escrevi a 10 de Outubro de 2006: « … é absolutamente indispensável levarmos Deus a sério»; e a 11 de Novembro do mesmo ano: «
Em segundo lugar, o nascimento do projecto A Teu Lado que à porta, para já, de um abortadouro tem gente mansa e humilde rezando e dissuadindo as mães grávidas de trucidarem seus filhos realizando-se assim, de algum modo, o que escrevi a 12 de Fevereiro do ano passado: « … temos de
Uma das formas de entender, em parte, a importância deste trabalho poderá ser a de perguntarmo-nos se caso um navio, cheio de passageiros, se estivesse afundando no rio Tejo, perante a indiferença geral, não acorreríamos nós, largando tudo, numa urgência, disponibilizando toda a nossa ajuda para o que fosse necessário para os salvar? Pois o que aqui se passa é semelhante, só que é pior.