por Nuno Serras Pereira
29. 09. 2008
1. Depois de muito estudarem, pensarem, reunirem e debaterem os membros da Ordem dos Médicos (OM) concluíram que ignoravam aquilo que todos os médicos, até hoje, sempre souberam - quando começa a vida humana. A novidade desta descoberta genial ficará certamente na história da humanidade como uma prova evidente da sagacidade dos médicos portugueses. Como não é possível saber quando a vida se inicia é deixado ao critério da consciência de cada médico pressentir, adivinhar ou decidir esse momento. Mas uma vez que a ignorância é absoluta e não há critérios objectivos para aferir da existência da vida podemos achar, opinar ou decidir que ela começa no nascimento ou aos 6 anos de idade ou aos 18 ou aos 90. Poderemos inclusive perguntar-nos se os médicos que chegaram a esta brilhante conclusão já começaram a viver ou não. Ou até se a vida alguma vez começa, se existirá ou não vida humana. Não deixa porém de ser estranho que os doutores que ignoram quando a vida começa pareçam saber exactamente quando se dá a morte. Pois se a gente não sabe se aquilo está vivo, se é um aquele, como poderemos saber o que é um aborto ou distingui-lo de uma cirurgia tumoral? Mais, como poderemos saber, quando aquilo é grande, se lhe aplicar ou não a eutanásia ou a distanásia? Aliás, se não se sabe quando se dá o início da vida como se pode saber quando acontece a morte? Há, por esse mundo fora, muitas discussões sobre os sinais da morte. Sendo assim como é que os médicos portugueses que não sabem quando começa a vida sabem exactamente quando ela termina?
2. Razão tinha o Professor Luís Botelho Ribeiro em alertar para o relativismo ético deste novo “código deontológico” que pretende ser um documento ético. Pena é que o senhor Bastonário e demais responsáveis não percebam, ou finjam não entender, que onde entra o relativismo a ética é escorraçada. Este novo código representa uma vitória “póstuma” do ex-ministro Correia de Campos, o sanguinolento.