Excelente texto de José Manuel Fernandes, reproduzido no blogue "o Povo"
«O direito a cada um "procurar a felicidade" é muito diferente da ideia de que um Parlamento ou Estado devem legislar a partir da sua ideia de felicidade individual. Até porque ela é isso mesmo: individual
Num dos mais luminosos textos políticos de todos os tempos, a Declaração de Independência dos Estados Unidos, Thomas Jefferson escreveu que todo o homem tem direito "à vida, à liberdade e a procurar a felicidade". Inspirada nos conceitos de John Locke, uma das figuras maiores do iluminismo escocês, a frase adopta o conceito de "procura da felicidade" como fazendo parte dos direitos humanos essenciais, alargando o sentido mais estrito do direito à propriedade.
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Já Maggie Scarf, de acordo com as sínteses disponíveis sobre o seu livro, não procura definir felicidade ou condições para a felicidade, antes parte de estudos em que se pede às pessoas para dizerem como se auto-avaliam e de dezenas de entrevistas que ela própria realizou. Aquilo a que chama "boas notícias para o casamento" é ter encontrado formas de ser feliz na relação a dois que se afastam de um outro estereótipo (este também criticado por Pais Ribeiro), o que associa o casamento sobretudo a paixão e relações sexuais intensas. Ela comparou (e utilizou estudos que comparam) a felicidade pressentida por casais que atravessaram momentos complicados e resistiram e casais que, nessas alturas, optaram pelo divórcio. Ora a sua conclusão, de acordo com The Economist, é que os casais que tentaram e conseguiram ultrapassar as suas crises tendem a dizer-se hoje muito felizes, sendo que a sua resposta à pergunta sobre se "o divórcio torna as pessoas mais felizes" é simples: "raramente". Os estudos que cita indicam que a maioria dos parceiros que se mantiveram unidos se considera feliz enquanto apenas um em cada cinco dos parceiros que se divorciaram conseguiu encontrar depois uma nova relação mais feliz. Independentemente das análises académicas e dos estudos empíricos, algo ressalta contudo das reflexões anteriores: a de que é mesmo importante que o Estado se abstenha de definir as condições em que, sobretudo numa relação a dois, se é mais feliz, pois criará por certo mais infelicidade. E, legislando sobre o casamento e o divórcio, abstendo-se de ir por aí (algo de que não se abstinha, por exemplo, a explicação de motivos da vetada lei do divórcio), se centre antes nas condições do bom exercício da justiça e no seu dever de proteger os mais fracos. Os deputados vão voltar a ter uma hipótese de o fazer quando a lei do divórcio voltar ao Parlamento.
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